São Paulo, segunda, 30 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Diretor era mestre em escalar elencos

da Redação
Não é pela ocasião de sua morte que

se afirma aqui a condição de Paulo Ubiratan como o executivo mais importante da programação da Globo. A ele cabia a última palavra sobre a trinca de novelas que sustenta a audiência da emissora.
O cargo de diretor de criação ele exercia apenas há dois meses, mas a nomeação veio justamente em função de estar, com frequência, no comando das novelas da casa.
A maestria em escalar elencos era apontada como seu mérito imbatível. Nas questões "quem começa com quem" e "quem acaba com quem", tinha escolhas quase sempre acertadas. Também sabia juntar, num mesmo set, um time que não saísse no tapa já no segundo mês de gravações.
Foi, aliás, para não sair no tapa que Ubiratan abandonou o projeto do remake de "Irmãos Coragem", em 94. Discordando da escalação de elenco feita por Luís Fernando Carvalho, diretor-geral, retirou seu nome dos créditos como diretor de núcleo.
Ubiratan se queixava da fama de mal-humorado. Nos últimos anos, ele mesmo já fazia piadas sobre o próprio comportamento. Tinha horror à presença de jornalistas e fotógrafos nas gravações, temendo que a imprensa antecipasse segredos ao público ou distorcesse o conceito de suas cenas.
Tomou ódio de cigarro -fumava quatro maços por dia- em 87, quando foi submetido à implantação de quatro pontes de safena. Batizou uma de Tônia Carrero, outra de Lúcia Veríssimo e outra de Mário Gomes, atores com quem havia se desentendido pouco antes do primeiro infarto.
Acompanhava-o também a fama de autoritário e conquistador. De seus quatro casamentos, o mais longo foi o segundo, com Natália do Vale, por oito anos. Depois vieram Valéria Monteiro, com quem teve a única filha, Vitória, e Mônica Fraga. "Deve haver alguma coisa errada comigo, porque não pode ser que todas as minhas ex-mulheres estejam erradas", dizia.
Chegou à Globo em 73, como editor do seriado "Shazan e Xerife". Foi dele a direção-geral de "Roque Santeiro", programa de maior audiência da TV brasileira de todos os tempos.
Começou a trabalhar aos 15 anos, como office boy de Cassiano Gabus Mendes na TV Tupi.
Afastado das funções executivas na Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, tomou providências para facilitar o transporte do corpo, do Rio para São Paulo, ontem.
Marluce Dias da Silva, superintendente-executiva, também se dispôs a bancar ponte aérea aos profissionais que quisessem ir ao velório e enterro, em São Paulo. (CRISTINA PADIGLIONE)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.