São Paulo, Terça-feira, 30 de Março de 1999
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FESTIVAL DE CURITIBA
O "inesperado" aconteceu na mostra "fringe"

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Os organizadores Leandro Knopfholz, Victor Aronis e Cássio Chamecki


NELSON DE SÁ
enviado especial a Curitiba

Já na oitava edição, encerrada anteontem e que não deixa dúvida quanto à sua sobrevivência, o festival de Curitiba mostrou uma crise de diretriz na mostra oficial e uma evidente afirmação da mostra paralela, o "fringe".
Na "oficial", espetáculos comerciais, atores de televisão, monólogos sem fim -alguns ótimos, mas monólogos. Um sucesso de vendas, de ingressos disputados até com certa violência, mas pouco além disso. No "fringe", por outro lado, foram peças de maior risco na dramaturgia e encenação. Peças, se não melhores, mais próprias de um festival.
A crise é da fórmula do evento, antes mostra do que festival, propriamente. Uma mostra da "indústria" do teatro, se tal coisa existisse no Brasil: como não existe, o que se vê são peças voltadas ao público curitibano, numa espécie de turnê concentrada de atrações de outros Estados. Assim foi a chamada mostra oficial.
O "fringe" ou franja, nome tomado do festival de Edimburgo, o maior (com mais de 1.600 espetáculos) e o mais inventivo no mundo, foi outra coisa.
Em seu segundo ano apenas, já indicou que pode até ajudar a mostra oficial. Ao contrário da primeira edição, no ano passado, não faltaram montagens de São Paulo e Rio de Janeiro, além de uma melhor qualidade dos espetáculos de Curitiba. Com isso, já não se torna tão necessária uma mostra oficial extensa -ao contrário de Edimburgo- e antes com quantidade do que qualidade.
Na forma presente, os espetáculos "oficiais" concorrem com os do "fringe", que não têm apoio financeiro -de transporte de cenário e elenco, hotel, sobretudo de pagamento pelas apresentações. O único subsídio é do custo do aluguel das salas de teatro.
Este ano, pelo menos um espetáculo de São Paulo, se é que se pode descrever assim, e outro do Rio confirmaram que "o inesperado acontece" em Curitiba, para usar o slogan publicitário do festival: respectivamente "A Boa", de Aimar Labaki, dirigido por Ivan Feijó, com Ana Kutner e Milhem Cortaz; e "Eu Sou Mais Nelson", com textos de Nelson Rodrigues, dirigidos por Ana Kfouri, com o jovem grupo Alice 118.
Entre os "oficiais", alguns confirmaram o já conhecido talento de seus intérpretes, solitários no palco, e outros até revelaram, também eles, "o inesperado" -como na "Opereta", aliás, um isolado mas digno representante dos musicais que se reafirmam hoje no teatro brasileiro.
Mas não foi só de teatro que viveu o festival, este ano. O modelo de Edimburgo, ao qual os três produtores de Curitiba se reportam desde o início, segue sendo adaptado aos poucos. Assim, se as peças "oficiais" frustraram, ao menos em parte, outras variantes das artes cênicas, da dança ao circo, ganharam espaço no Festival de Teatro de Curitiba -que já ameaça até mudar de nome.


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