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CRÍTICA
Ficção policial em clima de plantão
ARTICULISTA DA FOLHA
O crítico Antonio Candido
escreveu: "Uma das coisas
mais importantes da ficção literária é a possibilidade de "dar voz",
de mostrar em pé de igualdade os
indivíduos de todas as classes e
grupos, permitindo aos excluídos
exprimirem o teor de sua humanidade, que de outro modo não
poderia ser verificada".
Na literatura policial, nem sempre é a trama que interessa, mas o
clima da narrativa, as angústias
dos personagens, o jogo humano
e o charme do narrador. Na literatura policial brasileira, existe um
componente a mais: procura-se
entender não apenas as contradições humanas, mas as raízes de
tanta violência e desigualdade.
Venício, 41, o narrador de "Informações sobre a Vítima", romance de estréia do delegado
aposentado Joaquim Nogueira,
tem charme de sobra: não tem telefone nem celular, frequenta botecos em que o café parece ter sido
feito de água do esgoto, está sempre em ronda e, quando não está,
tem o vício dos policiais de apenas
observar os que infringem a lei.
Em seu caminho, surgem personagens cômicos e trágicos, como a escrivã que toca uma delegacia à noite, o informante que fala
um português corretíssimo e uma
vizinha nissei, seios à mostra.
Sua literatura tem clima de
plantão de delegacia. É seca, direta e fria. Sua linguagem é a do
mundo fechado e exclusivo da
polícia: "Os caras da Homicídios
não descobrem nada, aí entra em
ação o grande detetive da Horto
Florestal e racha o crime".
Nogueira é didático sem parecer
chato, conduz a trama com suspense, pistas falsas, em que tudo
deve ser observado atentamente.
Que ele não pare no primeiro romance.
(MARCELO RUBENS PAIVA)
Informações sobre a Vítima
Autor: Joaquim Nogueira
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 29,50 (347 págs.)
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