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POLÍTICA CULTURAL
Contrapartida social é oficializada, cultura popular tem prioridade; produtores apontam "dirigismo"
Estatais definem critérios de patrocínio
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
As empresas estatais Eletrobrás
- Centrais Elétricas Brasileiras S.A
(que há cinco anos figura entre os
três maiores incentivadores culturais do país) e Furnas Centrais
Elétricas divulgaram na semana
passada os critérios que passarão
a adotar, a partir deste ano, para o
patrocínio de projetos culturais.
O setor cinematográfico reagiu
com indignação e críticas de um
suposto "dirigismo cultural" por
parte do governo federal. A política de patrocínios culturais na gestão do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva vem sendo traçada pela
Secom (Secretaria de Comunicação de Governo), do ministro
Luiz Gushiken. Os critérios da
Eletrobrás e de Furnas configuram sua primeira oficialização.
A Eletrobrás relaciona, entre
outros, o objetivo de "atuar em
sintonia com o programa Fome
Zero, tendo como diretriz fundamental a exigência de contrapartidas sociais, notadamente geração
de emprego e renda para as comunidades carentes, capacitação
de jovens para a produção de cultura popular e acesso gratuito ou
a preços populares a atividades
culturais".
Furnas também estabelece que
"as contrapartidas sociais devem
ser de âmbito compensatório, como permitir acesso gratuito ou a
preços populares para o público-alvo prioritário -jovens de comunidades de baixa renda, portadores de deficiência física, portadores de doenças crônicas graves,
idosos, estudantes de escolas públicas".
Ruptura
Os critérios das duas empresas
para avaliação dos projetos culturais a serem beneficiados são praticamente idênticos.
As duas estatais informam que
investirão em cultura através da
Lei Rouanet, de renúncia fiscal. A
Lei do Audiovisual -também de
renúncia fiscal, mas específica para a produção de cinema- não é
mencionada.
"O atual governo teve a prudência e a sabedoria de não ocasionar
rupturas econômicas e sociais. Na
questão da política cultural está
havendo uma ruptura", diz o produtor cinematográfico Luiz Carlos Barreto.
Barreto estima que uma das
consequências da nova política de
patrocínios será "um baque na
produção do cinema brasileiro,
exatamente quando ele atravessa
um de seus melhores momentos".
A dificuldade do setor cinematográfico seria atender os critérios
de contrapartida social estabelecidos pelo governo, já que o produtor de um filme não tem autonomia sobre a exibição e não poderia, por exemplo, garantir uma
cota de ingressos gratuitos para
sua temporada nos cinemas.
"Somos produtores, não difusores culturais. Não se pode exigir
de nós o papel da difusão", diz o
cineasta e produtor Toni Venturi,
presidente da Apaci (Associação
Paulista de Cineastas).
Barreto afirma que "a contrapartida social básica e primeira é a
própria geração do produto cultural". E diz que os critérios anunciados "dirigem a produção de
cultura para um único viés, sendo
que o dirigismo cultural nunca
deu certo, nunca enriqueceu cultura nenhuma".
A ausência da Lei do Audiovisual na política de patrocínios das
estatais reforça um temor surgido
entre produtores de cinema
quando o consultor Yacoff Sarkovas passou a prestar serviços à Secom, na formulação dessas políticas. Sarkovas é considerado um
especialista em produção cultural
com pouco apreço pelo cinema.
"A contratação [pelo governo
federal] de uma consultoria cultural não entra na nossa compreensão. A consultoria cultural de um
governo é o Ministério da Cultura", afirma Barreto.
Venturi acha que a questão "está tendo tanto ruído porque está
no lugar errado". A Apaci defende
que o Ministério da Cultura, e não
a Secom, encarregue-se da definição de patrocínios culturais.
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