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Grupo de Riberão Preto recria clássico de H.G. Wells
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Na era da sublimação da individualidade, paradoxalmente, é
quando ela escorre cada vez mais
pelas mãos, tantas as forças contrárias. É por aí que o grupo Fora
do Sério, de Ribeirão Preto, caminha para levar à cena a sua versão
do romance "A Ilha do Dr. Moreau", clássico do escritor inglês
H.G. Wells (1866-1946).
Narra a história de um náufrago
resgatado para uma ilha no oceano Pacífico, onde um cientista recria a forma humana a partir da
remodelagem física de animais,
um processo de vivissecção, no
qual a dor poderia trazer à tona a
"humanidade" dessas criaturas.
A encenação do Fora do Sério
poderia pegar carona nas polêmicas em torno da clonagem, célula-tronco e que tais, mas preferiu o
plano da filosofia. "O conhecimento é ampliado a todo instante,
muitas vezes representado por
instituições religiosas e científicas.
Mas, ao mesmo tempo em que as
novidades edificam o ser humano, podem enquadrá-lo em dogmas, a liberdade sofre manipulação", diz o diretor Dino Bernardi,
também responsável por argumento e concepção. A dramaturgia é assinada por Amir Abdala.
Segundo Bernardi, Welles captou bem as contradições sociopolíticas do final do século 19, colocando-as em xeque sob o ponto
de vista da ciência, mas não só.
"Wells foi um escritor de antecipação, não de ficção. Tudo o que
escreveu praticamente se tornou
realidade", afirma o cenógrafo
Jair Correa.
No espetáculo, um quarto de
uma instituição religiosa, quarto
de uma pessoa desmemoriada,
serve como metáfora para a ilha.
Diante de personagens e situações de suspense, o espectador
também experimentará uma trajetória de perdição, como a do
narrador de Welles, Edward
Prendick, que na ficção sobrevive
ao naufrágio e, mais que isso, às
castrações que sofria num ambiente sombrio e hermético. (Ainda que, retornando à civilizada
Inglaterra, viria a notar que muito
do que o dr. Moreau experimentava já se tornara regra cotidiana.)
Criado há 16 anos, o Fora do Sério é conhecido e premiado pela
apropriação da linguagem da
Commedia dell'Arte, movimento
teatral popular surgido na Itália
no século 16, que se utiliza principalmente de máscaras. Aqui o
grupo busca outro registro. Não
que as máscaras, como se viu em
"Mistério Bufo" (92) e "Auto da
Barca do Inferno" (02), tenham
sido abolidas; antes, recriadas.
A Ilha do Dr. Moreau
Quando: estréia hoje, às 20h; sáb. e
dom., às 20h. Até 5/6
Onde: Sesc Belenzinho - galpão 1 (av.
Álvaro Ramos, 915, tel. 6602-3700)
Quanto: R$ 15
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