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"Me senti intimidado", diz Downey Jr.
Protagonista de "Homem de Ferro", que estréia hoje no Brasil, ex-"bad boy" comenta atuação como o herói falível da Marvel
"Não queria um jovem, que não viveu nada, tentando retratar esse personagem complicado", diz diretor, que precisou lutar para ter o ator
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
ENVIADO À CIDADE DO MÉXICO
"Claramente, eu não sou do
tipo heróico, com essa longa lista de defeitos de caráter e todos
os erros que eu cometi, a maioria deles publicamente."
Quando Tony Stark, o bilionário fanfarrão que enverga secretamente a armadura do Homem de Ferro, pronuncia essa
frase, no fim do filme, a ironia
da situação salta aos olhos.
Porque, mais do que o personagem, quem está dizendo a
frase é Robert Downey Jr., o ex-"bad boy" que interpreta o herói em "Homem de Ferro", que
tem estréia nacional hoje.
Depois de um início de carreira promissor, destacando-se
em filmes como "Abaixo de Zero" (1987) e "Chaplin" (1992),
no qual fez o papel-título e foi
indicado ao Oscar, Downey Jr.
caiu em desgraça, com uma série de prisões por incontáveis
motivos (porte de drogas, de armas, dirigir embriagado etc.).
Mesmo com sua recuperação
nos últimos anos, voltando a virar notícia por suas atuações
(em filmes como "Boa Noite e
Boa Sorte" e "Zodíaco"), ele,
claramente, não é o tipo que se
imaginava como herói de um
blockbuster de US$ 186 milhões (R$ 312 milhões) -basta
dizer que, antes dele, o papel
esteve com Tom Cruise.
"Um sujeito imperfeito"
Como, então, com essa ficha
corrida, Downey Jr. conseguiu
emplacar o papel?
"Tony Stark é um sujeito bastante imperfeito...", tenta se defender o ator, durante entrevista coletiva, no México. Logo desiste: "Gostaria que Jon [Favreau, o diretor] respondesse a
essa pergunta, porque tomamos conta um do outro".
A decisão de transferir a brasa para o diretor é sábia, não
apenas porque foi ele o avalista
de sua contratação mas também porque, depois de vencer a
resistência do estúdio e de quase todos os envolvidos, Favreau
já tem a resposta bem ensaiada.
"Sempre disse que, se havia
um personagem desse tipo que
Robert podia fazer, era Tony
Stark. Nós somos a Marvel, estamos tentando ser fiéis às
HQs. E, nelas, Stark lida com
esse tipo de problema [como o
alcoolismo]. Não queria algum
ator jovem, que não viveu nada,
tentando retratar esse personagem complicado."
Realmente. Começando pelo
fato de ser um quarentão (como o ator, que tem 43 anos) e
passando por todos os dilemas
morais que enfrenta (por ser
fabricante de armas, por seu estilo de vida playboy), o Homem
de Ferro é um personagem sui
generis no universo das HQs.
"Ele chega ao fundo do poço
no filme, não queria que fosse
um alienígena como o Super-Homem, alguém perfeito, os
personagens da Marvel têm
suas falhas", disse Favreau.
Chance aproveitada
Com o filme pronto e o perfeito encaixe de Downey Jr. no
papel sendo destacado pela crítica, Favreau enfatiza os méritos do ator.
"Não tenho um passado semelhante ao de Robert, mas
acreditei que ele estava sendo
sério sobre aproveitar essa
oportunidade. Ele se comprometeu comigo e cumpriu sua
parte, e agora eu pareço um gênio por causa disso."
"Me senti realmente pressionado a fazer meu melhor", afirmou Downey Jr. à Folha.
"Primeiro, me senti intimidado pelo papel. Stark é esse
sujeito alto, bonito, rico, ele é
tantas coisas que não sou que
pensei que, em vez de tentar
me encaixar nisso, deveria trazer o que conheço, minhas experiências, meu lado infantil,
minhas limitações. Achei que
isso me ajudaria mais do que
tentar interpretar um tipo durão. Christian Bale [o atual Batman] é fantástico e faz isso
muito bem, então tentei fazer o
que eu faço bem."
O repórter MARCO AURÉLIO CANÔNICO viajou
a convite da distribuidora Paramount
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