DO CRÍTICO DA FOLHA

Robert Downey Jr. está sob os holofotes desde a adolescência, o que sugere, em paralelo com seus diversos incidentes fora das telas, ter mais do que os 43 anos recém-completados. Idade ainda muito razoável, portanto, para reinventar a própria carreira como astro de franquias juvenis baseadas em HQs.
Tony Stark, mistura de gênio da ciência e playboy que Downey tempera com cinismo em "Homem de Ferro", tem presença anunciada também em "O Incrível Hulk", outra produção da Marvel, com Edward Norton como Bruce Banner e lançamento previsto para junho.
Sua contribuição ao tom do filme parece mais decisiva do que a de Tobey Maguire para a série "Homem-Aranha" ou a de Christian Bale para "Batman". É bem verdade que já havia, escolha do ator à parte, a determinação da Marvel e do diretor Jon Favreau ("Swingers") em tratar o personagem de maneira séria, mas com elementos de autoparódia.
Além de estar à vontade nesse registro, Downey tem a vantagem de evocar no público (ao menos na parcela que o acompanha desde os anos 80) a própria trajetória, cuja curva de recuperação é similar à do personagem, bilionário da indústria armamentista que, depois de um acidente, se reconstrói publicamente como super-herói.
Em torno do caráter humano que o ator traz para o personagem, arsenal de virtudes e defeitos em doses cavalares, "Homem de Ferro" costura ficção científica e aventura de espionagem, com referências não só às HQs do personagem mas também a outras franquias da Marvel, incluindo ponta do escritor Stan Lee. Aqui, Lee faz um boa-vida cercado de loiras que Stark confunde em uma festa com Hugh Hefner, criador da "Playboy".
Lee está de pijamas, como Hefner se deixa fotografar o tempo todo. A brincadeira serve para lembrar que também Stark foi desenhado, no filme, como uma espécie de Hefner com QI de cientista.
O que leva à presença de Gwyneth Paltrow como a fiel e elegante auxiliar de Stark, com charme de "Bond girl" e a promessa de ocultar, na mente do chefe que quase só pensa nisso, dotes de coelhinha da "Playboy". (SÉRGIO RIZZO)