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Brasil disputa musicais da Broadway
Gênero ganha terreno no Rio de Janeiro e em São Paulo; espetáculo "Hair" foi disputado "mil a mil reais", afirma diretor
Profissionais mais bem preparados e construção de salas de teatro com fosso de orquestra são estímulos para produtores nacionais
GUSTAVO FIORATTI
DA REPORTAGEM LOCAL
A pergunta "Quem dá mais?"
parece ter encontrado um novo
lugar no mundo das artes: o circuito dos musicais. Os "importadores" de peças da Broadway
do eixo Rio-São Paulo já começam a esbarrar em situações de
disputa e concorrência por direitos de obras premiadas ou
que tiveram boa aceitação de
público e crítica. Sinal de que o
gênero movimenta um mercado bastante promissor -para
não dizer rentável.
Segundo Cláudio Botelho,
sócio da Aventura Entretenimento e autor de versões para
espetáculos como "Avenida Q"
e "O Despertar da Primavera",
a aquisição dos direitos para
montar "Hair" foi disputada
"mil a mil reais" com uma grande empresa do ramo, que ele
não revela o nome. A primeira
oferta para adquirir os direitos
sobre o musical, que deve estrear no segundo semestre, foi
de US$ 30 mil, conta Botelho. A
última, inflacionada pela concorrência, chegou a US$ 35 mil.
O valor é pago também como
uma espécie de garantia de que
ninguém monte o trabalho no
país. Mas quem adquire o direito tem prazo determinado para
levantar a encenação. Em geral,
vale por até dois anos.
Virou guerra
Para se precaver de concorrências futuras, a Aventura acabou levantando um verdadeiro
estoque: além de "Hair", que
estreia no segundo semestre, e
de "Gypsy", que entra em cartaz hoje no Rio, estão na gaveta
da produtora textos de "Nine",
"Kiss Me Kate", "The Fantastics!", "O Violinista no Telhado" e "Anne".
"Agora virou guerra", diz Botelho. "Hoje, você vai tentar
montar um musical e, quando
vê, o direito já foi comprado por
alguém que nem é do ramo",
completa o diretor, que viu o
quadro de funcionários da produtora da qual é sócio triplicar
de tamanho, pouco tempo depois de ela completar um ano
de existência.
A maior "concorrente" da
empresa carioca, considerando-se o poder de barganha para
conseguir direitos, é a T4F. Só
que, diferentemente do grupo
formado por Botelho, Charles
Möeller e mais cinco sócios, a
empresa paulista traz espetáculos em esquema de franchising. Isto é, os musicais da T4F,
em geral, são cópias dos originais, a exemplo de "Cats", em
cartaz no teatro Abril, e de
"Mamma Mia!", que deve estrear no segundo semestre.
Bert Flink, vice-presidente
de comunicação da agência The
Rodgers & Hammerstein Organization, que detém os direitos
dos musicais "O Despertar da
Primavera", "Noviça Rebelde"
e "O Rei e Eu", confirma um aumento de solicitações entre
produtores brasileiros. "Nós temos sido bastante procurados
para licenciar versões na língua
portuguesa", conta. Segundo
Flink, houve procura também
pelas peças "Altar Boys", "Footloose", "Smokey Joe's Café" e
"I Love You, You're Perfect,
Now Change", nenhuma delas
ainda produzida.
Todos os cantos
O boom de musicais em terras tupiniquins faz parte de um
contexto internacional, segundo Flink. Houve aumento na
procura de direitos entre países
da América Latina. Brasil, Rússia, China e Índia também se
destacam na lista que contempla todos os continentes.
O diretor Jorge Takla, da peça "O Rei e Eu", acha que a disputa pode estar acontecendo
especialmente entre os musicais que estrearam na Broadway mais recentemente.
Para o diretor, o estímulo no
Brasil foi determinado principalmente por questões de infraestrutura. O número de musicais cresceu depois que São
Paulo e Rio de Janeiro ganharam teatros capazes de abrigar
peças do gênero. "Também
criou-se aqui um ambiente favorável, com técnicos e cantores-intérpretes mais bem preparados", diz Takla.
A aquisição do direito para
montar "O Rei e Eu", no entanto, não foi tão difícil, diz. "Eu
gosto de montagens antigas, e
essas não são tão procuradas",
afirma Takla, que não revela o
valor pago pelos direitos da
montagem que tem Tuca Andrada no elenco. Mas conta que
pagou US$ 25 mil (cerca de R$
44 mil) por "My Fair Lady", em
2007, e US$ 50 mil (R$ 88 mil)
por "West Side Story", em
2008. O próximo de sua lista é
"Evita", de Andrew Lloyd Webber. Está garantido, para 2011.
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