ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

Como seria bom ligar a TV todo dia e encontrar atrações com a qualidade de "You Don't Know Jack" (você não conhece o Jack ou você não sabe de nada, em tradução literal), o telefilme da HBO recém-exibido nos EUA. Dirigido por Barry Levinson ("Rain Man") e estrelado por Al Pacino, o filme aborda um tema espinhoso: a eutanásia -sem apelar para o proselitismo.
A obra conta a história de Jack Kevorkian, conhecido como "Dr. Morte", um médico que virou celebridade nos EUA pela defesa da eutanásia e do suicídio assistido. Kevorkian ajudou na morte de 130 pacientes terminais, foi processado diversas vezes e acabou condenado a oito anos de prisão.
O destaque do filme é Al Pacino na melhor interpretação em anos. Kevorkian é um homem magro e frágil, de temperamento dócil e contido, e Pacino, ator mais conhecido por papéis bombásticos, some dentro do personagem. O filme não toma partido de Kevorkian nem dos detratores.
Ele é mostrado como um sujeito obstinado em defender ideias mas também como um egocêntrico sensacionalista, que adorava a exposição e não parecia se importar com as consequências de seus atos para sua família e amigos.
Um dos defeitos mais corriqueiros de cinebiografias é só dar espaço para as ideias do personagem retratado. O diretor não caiu nessa armadilha e mostra o lado das pessoas que se opunham a Kevorkian. Cabe ao espectador tirar conclusões.
Se a história de Kevorkian já é conhecida, parece dizer Levinson, o mais importante é discutir as ideias. "You Don't Know Jack" é um caso raro de filme político que abre a discussão, em vez de só tirar conclusões. Ainda não há data para exibição no Brasil.