São Paulo, sexta-feira, 30 de abril de 2010

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Pintor, pai de Sarkozy expõe em Paris

Artista lançou livro em que se defende de críticas; quadros combinam surrealismo e tecnologia

LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

Um presidente francês tem, pela primeira vez, pai e mãe vivos. E, pela primeira vez, um deles é estrangeiro. Pál Sarkozy Nagy-Bócsai nasceu numa família aristocrática na Hungria e chegou a Paris em 1948. Foi apátrida até 1976.
Neste ano, o ex-publicitário expõe pela primeira vez na França, no Espace Cardin, até 9/5. São 50 telas de um estilo qualificado por um crítico entre "Dalí kitsch e pop art cafona". Os quadros têm tiragens de seis cópias e são vendidos por volta de 10 mil (R$ 23 mil), como o retrato que fez do filho.
Devido à repercussão em torno desse quadro, Pál preferiu não exibi-lo para "que possam se interessar pelos outros". Depois da eleição do filho, o pai contabilizou 214 livros sobre o rebento no qual seu retrato não era dos mais edificantes: pai negligente, ausente. Para retificar as "inverdades", Sarkozy, 82, lançou neste ano "Tant de Vie" (tanto da vida).
O filho não interferiu. Sarkozy pai conversou com a Folha em seu apartamento.

 

FOLHA - Que lugar a pintura ocupa em sua vida?
PÁL SARKOZY
- Comecei a desenhar quando criança. Vim para a França como refugiado, em 1948, e comecei a trabalhar como pintor. Nas grandes agências de publicidade, fiz criação. Há cinco anos, comecei a fazer quadros a quatro mãos. O importante é encontrar uma ideia. Um quadro conta uma história, não é somente um retrato ou uma natureza morta. Decidida a história, faço esboços e Werner [Hornung] desenha com o computador.

FOLHA - Como o senhor definiria o estilo? Surrealista?
SARKOZY
- Se fosse vivo, Dalí trabalharia com o computador. Combinamos os dois universos, o clássico e as novas tecnologias. O que conta é o resultado e não se o pincel é de pelo de vison ou não.

FOLHA - Que nota, de 0 a 10, o senhor daria ao presidente?
SARKOZY
- Não trato de política. Tenho muita admiração por ele, pelo que tenta fazer pela França. Mas é obrigado a tomar medidas impopulares. Falamos de tudo, menos de política.

FOLHA - Nicolas Sarkozy tornou-se presidente da República com um pai húngaro e um avô grego. Como o senhor viu o polêmico debate sobre a identidade nacional?
SARKOZY
- Pela primeira vez na história da França, um presidente é filho de estrangeiro. Cheguei à França em 1948, a imigração era totalmente diferente, havia o Plano Marshall, não faltava trabalho, recebi minha carteira de estrangeiro e alguns dias depois já estava trabalhando. Criticam muito meu filho, nunca por ser filho de estrangeiro. Não há muito trabalho aqui, os estrangeiros não podem ser recebidos para ficar desempregados.


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