São Paulo, sábado, 30 de abril de 2011

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CRÍTICA ROMANCE

Inversão narrativa marca obra de H.G. Wells

Em "O Homem Invisível", de 1897, autor exibe sua abordagem madura de temas caros ao bruxinho Harry Potter

SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nesses tempos de Harry Potter e "O Senhor dos Anéis", é um sopro de ar fresco reencontrar uma das obras mais prestigiadas do autor inglês H.G. Wells (1866-1946), "O Homem Invisível" (1897), que acaba de ganhar nova edição em português pelo selo Alfaguara.
Com prefácio, notas e tradução de Braulio Tavares, o livro oferece um contexto para a história, produzida em meio a um frenesi da literatura de ficção científica promovido por Wells no final do século 19 e início do 20. Mas "O Homem Invisível" guarda algumas importantes diferenças com relação a outros produtos clássicos da inventividade do autor de "Guerra dos Mundos".
A mais notável delas é que, na presente obra, a premissa da ficção científica (a possibilidade de um homem se tornar invisível por meio da ciência) senta-se no banco traseiro, e o fio condutor da história são as consequências da invisibilidade.
Isso impacta diretamente na forma como o enredo é apresentado.
Em vez de seguir uma linearidade a partir da premissa inicial, como faz com "A Máquina do Tempo", no qual as primeiras páginas são quase um manual de instruções que explica ao leitor como as viagens ao passado e ao futuro são possíveis, aqui Wells opta por atirar o leitor no meio da ação, num clima de completo mistério, deixando para explicar a história pregressa do homem invisível lá pelo meio do livro.
Sábia estratégia. Ciente de que a premissa da invisibilidade não era cientificamente tão sólida quanto (pasme!) uma máquina do tempo ou mesmo uma invasão de marcianos (é preciso levar em conta o que dizia o estado da arte astronômica na época), o autor busca investir mais ainda em seus personagens, tornando a história crível por meio dos cenários familiares onde ela se passa.
Quando chega a hora de explicar como o homem se tornou invisível, é tarde demais para desistir do livro. E, com esse entrave resolvido, Wells se presta a fazer o que a ficção científica tem de melhor: analisar as consequências de uma premissa fantástica contrastada com o elemento humano.

MATURIDADE
E logo fica claro que, em vez de ser uma bênção, ser invisível pode ser um grande castigo.
É sem dúvida uma abordagem mais madura da invisibilidade do que a capa mágica do bruxinho criado por J.K. Rowling ou mesmo do épico mais sofisticado de J.R.R. Tolkien.
Essa é uma das razões, mas não a única, pela qual os livros de Wells, a despeito da datação de algumas de suas premissas, nunca saem realmente de moda.
Vale a pena esquecer a adaptação cinematográfica pífia protagonizada por Kevin Bacon em 2000 ("O Homem sem Sombra") e mergulhar de cabeça no original, e a nova edição da Alfaguara, com competente tradução e apresentação, é uma ótima oportunidade para tanto.

O HOMEM INVISÍVEL

AUTOR H.G. Wells
EDITORA Alfaguara
TRADUÇÃO Braulio Tavares
QUANTO R$ 36,90 (216 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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