São Paulo, sábado, 30 de abril de 2011 |
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CRÍTICA COMÉDIA "Menecma" brinca com teatralidade e empastela gêneros Roteirista Bráulio Mantovani estreia seu primeiro texto no teatro com direção da cineasta Laís Bodanzky LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA O teatro brincando de teatro. "Menecma", primeira peça do consagrado roteirista de cinema Bráulio Mantovani, diverte, mas não resulta. Dirigida teatral pela cineasta Laís Bodanzky, tropeça no empastelamento de gêneros e na condução insegura. O nome foi inspirado na comédia de Plauto (254 a.C.-184 a.C.) "Menaechmi" (os gêmeos), base da palavra que passou a referir pessoas com espantosa semelhança. Se o autor romano se especializou em ironizar os costumes, revelando o ridículo humano em personagens comuns, Mantovani fez um exercício de metalinguagem num jogo de espelhos com os processos representacionais. A situação inicial é a de um cineasta editando um documentário sobre o pai, um grande ator recém-falecido, e suportando sua mulher, ex-amante de seu genitor. Se a princípio sugere-se um quebra-cabeças interessante sobre a criação de ficções dramáticas, logo se mesclam citações de gêneros cinematográficos como o suspense e a chanchada. Talvez um encenador mais experiente pudesse se aproveitar do pastiche de modos narrativos e retirar daí uma realização mais plena. Bodanzky não exerce um controle autoral para evitar a flutuação errática das ações. Com soluções primárias, como apagamentos da luz, a trama se revela mais confusa até se perder em chavões. ATORES SALVADORES O que pretenderia ser o acúmulo alucinantes de camadas, a estratégia de peças dentro da peça, torna-se uma barafunda de repetições em que os personagens duplicados apenas se estranham e se reencontram. Os atores salvam o projeto do desastre. Um maduro Roney Facchini sobressai nos papéis de pai e de um suspeito policial. Sua elegância e intensidade garantem o ritmo da comédia, mas não suprem as hesitações do texto. Paula Cohen encarna desenvolta as gêmeas, ainda que tenha dificuldades de conviver com as demandas ambíguas das falas. Gustavo Machado, como o cineasta, vê seu talento desperdiçado por não encontrar um tom que concilie as tensões. Ótimas intenções e artistas dedicados não foram suficientes para fazer um bom espetáculo. Na melhor das hipóteses, pode ser visto como uma brincadeira com a teatralidade sem maiores consequências. MENECMA QUANDO qui. a dom., às 20h; até 26/6 ONDE teatro do Sesi (av. Paulista, 1.313, tel. 0/xx/11/3146-7405) QUANTO grátis, às qui. e sex.; R$ 10, aos sáb. e dom. CLASSIFICAÇÃO 14 anos AVALIAÇÃO regular Texto Anterior: Crítica: Amis ignora natureza humana, que Arendt tenta mudar Próximo Texto: FOLHA.com Índice | Comunicar Erros |
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