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CRÍTICA
CD está perdido no tempo
da Reportagem Local
Se Cartola fosse vivo, talvez
dissesse que são "tempos idos".
"Só Cartola", que revisa a obra
do compositor nas vozes de
quem tem autoridade para fazê-lo, é produto perdido no
tempo num Brasil em que o
culto à industrialização da arte
conduz irracionalidade e mediocrização a termos de totalitarismo.
Não dá para Cartola, Elton
Medeiros, Nelson Sargento e
Galo Preto competirem com a
música sambaneja e derivados,
e nem eles se prestariam a isso,
mas acontece que hoje como
nunca a totalitarização estrangula ao roxo a possibilidade de
existência do que não seguir
parâmetros definidos de dentro para fora.
Estrangula, mas não mata.
"Só Cartola" é disco pobre, gravado ao vivo e produzido com
o menos possível.
Vem ao mundo, por isso, como exemplo residual do que talentos enjeitados sabem e podem fazer pela música brasileira.
O exemplar em questão faz
muito, aliás.
O Galo Preto dá cama fina e
discreta às melodias indestrutíveis de "Alvorada", "Tempos
Idos", "Acontece", "As Rosas
Não Falam" e a outras bem menos conhecidas, mas não menos impotentes -"Fiz por Você o Que Pude", as "inéditas"...
Sobre a cama, Nelson e Elton
se deitam e se esfalfam.
Se fazem tanto à míngua,
imagine se dispusessem do
aparato -grana, gravadora,
maquiagem, televisão, massificação- de que os Só pra Contrariar dispõem para, a duras
penas, emplacar um sambinha
chocho no meio de dezenas de
baladas melosas disfarçadas de
sambinhas.
Que o Só pra Contrariar merece existir, não resta dúvida.
Mas que fora da indústria fonográfica só reste o abismo negro
Cartola, seus companheiros e
seus herdeiros (onde estarão
seus herdeiros?) não desistirão
de desmentir.
(PAS)
Avaliação:
Disco: Só Cartola
Artistas: Elton Medeiros, Nelson
Sargento e Galo Preto
Lançamento: Rob Digital
Quanto: R$ 18, em média
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