São Paulo, Sexta-feira, 30 de Abril de 1999
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CRÍTICA
CD está perdido no tempo

da Reportagem Local

Se Cartola fosse vivo, talvez dissesse que são "tempos idos". "Só Cartola", que revisa a obra do compositor nas vozes de quem tem autoridade para fazê-lo, é produto perdido no tempo num Brasil em que o culto à industrialização da arte conduz irracionalidade e mediocrização a termos de totalitarismo.
Não dá para Cartola, Elton Medeiros, Nelson Sargento e Galo Preto competirem com a música sambaneja e derivados, e nem eles se prestariam a isso, mas acontece que hoje como nunca a totalitarização estrangula ao roxo a possibilidade de existência do que não seguir parâmetros definidos de dentro para fora.
Estrangula, mas não mata. "Só Cartola" é disco pobre, gravado ao vivo e produzido com o menos possível.
Vem ao mundo, por isso, como exemplo residual do que talentos enjeitados sabem e podem fazer pela música brasileira.
O exemplar em questão faz muito, aliás.
O Galo Preto dá cama fina e discreta às melodias indestrutíveis de "Alvorada", "Tempos Idos", "Acontece", "As Rosas Não Falam" e a outras bem menos conhecidas, mas não menos impotentes -"Fiz por Você o Que Pude", as "inéditas"...
Sobre a cama, Nelson e Elton se deitam e se esfalfam.
Se fazem tanto à míngua, imagine se dispusessem do aparato -grana, gravadora, maquiagem, televisão, massificação- de que os Só pra Contrariar dispõem para, a duras penas, emplacar um sambinha chocho no meio de dezenas de baladas melosas disfarçadas de sambinhas.
Que o Só pra Contrariar merece existir, não resta dúvida. Mas que fora da indústria fonográfica só reste o abismo negro Cartola, seus companheiros e seus herdeiros (onde estarão seus herdeiros?) não desistirão de desmentir. (PAS)


Avaliação:


Disco: Só Cartola Artistas: Elton Medeiros, Nelson Sargento e Galo Preto Lançamento: Rob Digital Quanto: R$ 18, em média


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