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Peter Zumthor recebe o Pritzker em Buenos Aires
Suíço falou com a Folha pouco antes de ser premiado com o Nobel da arquitetura
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
Em permanente tensão entre ser arte ou instrumento de
mudança social, a arquitetura
celebrou ontem seus princípios
básicos, com a entrega do prêmio Pritzker, o Nobel da área,
ao suíço Peter Zumthor, 66.
Longe do circuito das celebridades da arquitetura, o ex-marceneiro vive há 30 anos na
remota vila de Haldenstein,
nos Alpes suíços. Ali, desenvolveu grande parte de sua obra,
celebrada pela simplicidade visual e pela aposta no aspecto
sensorial dos materiais.
O suíço ingressa no clube de
elite dos agraciados com o
Pritzker, ao lado dos brasileiros
Oscar Niemeyer (1988) e Paulo
Mendes da Rocha (2006). Pela
primeira vez, a honraria foi entregue na América do Sul, em
cerimônia na noite de ontem
em Buenos Aires.
Antes de receber o prêmio de
US$ 100 mil, criado para exaltar o impacto criativo da carreira de um arquiteto, concedeu
entrevista exclusiva à Folha.
"Arquitetos não mudam a sociedade, somos apenas arquitetos, que precisam de clientes e
dinheiro para fazer algo", afirma o suíço, distante de temas
que marcam hoje a agenda da
profissão, como o ativismo social e softwares de design.
Zumthor pensa na arquitetura como experiência, sem dogmas ou teorias. "Não estou interessado em papel ou projetos, mas em construções reais."
Diz acreditar na função social
da atividade, mas desde que
"pessoas certas sejam chamadas a fazer coisas certas". "Antes dessa incumbência há a política, a economia. Infelizmente políticos não costumam convocar arquitetos quando fazem
algo. Assim é a vida."
A reportagem apresentou a
Zumthor questões feitas por
arquitetos do Brasil, país que
conhece somente por imagens
das "composições físicas e fortes" de Mendes da Rocha e da
"grandeza", de Niemeyer.
Com obras que combinam
força bruta e refinamento, como os banhos termais em Vals,
na Suíça -conjunto de piscinas
que formam um labirinto de
pedra e luz-, Zumthor diz que
a "essencialidade" é a chave para conectar seu trabalho à "arquitetura da escassez" exercida
na América Latina.
"No fim é isso: construir ambientes para que o homem se
sinta bem", respondeu à equipe
do Una Arquitetos -Fernanda
Barbara, 42, Fábio Valentim,
39, Cristiane Muniz, 38, e Fernando Viégas, 38.
Admirado por seu compromisso com a permanência
-obras que parecem ter estado
sempre em suas locações-, o
suíço diz que a relação entre lugar e arquitetura não deve
sempre ser pautada pela harmonia, tema levantado por
Marcelo Morettin, 40, do Andrade Morettin Arquitetos.
"Às vezes se trata de não entrar em um jogo que não goste.
Quando fiz o pavilhão suíço da
Expo 2000, em Hannover, Alemanha [2.800 m3 de pequenas
vigas de madeira maciça, empilhadas apenas por encaixes], fiz
algo que não estava em harmonia com o resto dos pavilhões,
porque odeio feiras mundiais."
Para o arquiteto Fernando
Lara, professor da Universidade do Texas (EUA), a eleição de
Zumthor reflete um interesse
da profissão por temas como
sustentabilidade, em detrimento de temas sociais. "É a
arquitetura pela arquitetura."
Zumthor resume sua visão
da arquitetura: "Arquitetura
não é reproduzir conhecimento. Um bom começo é ver como
experimentou a arquitetura
pela primeira vez, antes mesmo de conhecê-la. Há tantas
construções banais, e a coisa
mais bela é deixar essa emoção
positiva aos outros. Para isso, é
preciso ir dentro de si, olhar e
acreditar em suas experiências.
No fim, se trata de transformar
sonhos em realidade."
Colaborou MARIO GIOIA, da Reportagem Local
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