São Paulo, sábado, 30 de maio de 2009

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Peter Zumthor recebe o Pritzker em Buenos Aires

Suíço falou com a Folha pouco antes de ser premiado com o Nobel da arquitetura

THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

Em permanente tensão entre ser arte ou instrumento de mudança social, a arquitetura celebrou ontem seus princípios básicos, com a entrega do prêmio Pritzker, o Nobel da área, ao suíço Peter Zumthor, 66.
Longe do circuito das celebridades da arquitetura, o ex-marceneiro vive há 30 anos na remota vila de Haldenstein, nos Alpes suíços. Ali, desenvolveu grande parte de sua obra, celebrada pela simplicidade visual e pela aposta no aspecto sensorial dos materiais. O suíço ingressa no clube de elite dos agraciados com o Pritzker, ao lado dos brasileiros Oscar Niemeyer (1988) e Paulo Mendes da Rocha (2006). Pela primeira vez, a honraria foi entregue na América do Sul, em cerimônia na noite de ontem em Buenos Aires.
Antes de receber o prêmio de US$ 100 mil, criado para exaltar o impacto criativo da carreira de um arquiteto, concedeu entrevista exclusiva à Folha. "Arquitetos não mudam a sociedade, somos apenas arquitetos, que precisam de clientes e dinheiro para fazer algo", afirma o suíço, distante de temas que marcam hoje a agenda da profissão, como o ativismo social e softwares de design. Zumthor pensa na arquitetura como experiência, sem dogmas ou teorias. "Não estou interessado em papel ou projetos, mas em construções reais."
Diz acreditar na função social da atividade, mas desde que "pessoas certas sejam chamadas a fazer coisas certas". "Antes dessa incumbência há a política, a economia. Infelizmente políticos não costumam convocar arquitetos quando fazem algo. Assim é a vida." A reportagem apresentou a Zumthor questões feitas por arquitetos do Brasil, país que conhece somente por imagens das "composições físicas e fortes" de Mendes da Rocha e da "grandeza", de Niemeyer.
Com obras que combinam força bruta e refinamento, como os banhos termais em Vals, na Suíça -conjunto de piscinas que formam um labirinto de pedra e luz-, Zumthor diz que a "essencialidade" é a chave para conectar seu trabalho à "arquitetura da escassez" exercida na América Latina.
"No fim é isso: construir ambientes para que o homem se sinta bem", respondeu à equipe do Una Arquitetos -Fernanda Barbara, 42, Fábio Valentim, 39, Cristiane Muniz, 38, e Fernando Viégas, 38. Admirado por seu compromisso com a permanência -obras que parecem ter estado sempre em suas locações-, o suíço diz que a relação entre lugar e arquitetura não deve sempre ser pautada pela harmonia, tema levantado por Marcelo Morettin, 40, do Andrade Morettin Arquitetos. "Às vezes se trata de não entrar em um jogo que não goste.
Quando fiz o pavilhão suíço da Expo 2000, em Hannover, Alemanha [2.800 m3 de pequenas vigas de madeira maciça, empilhadas apenas por encaixes], fiz algo que não estava em harmonia com o resto dos pavilhões, porque odeio feiras mundiais." Para o arquiteto Fernando Lara, professor da Universidade do Texas (EUA), a eleição de Zumthor reflete um interesse da profissão por temas como sustentabilidade, em detrimento de temas sociais. "É a arquitetura pela arquitetura."
Zumthor resume sua visão da arquitetura: "Arquitetura não é reproduzir conhecimento. Um bom começo é ver como experimentou a arquitetura pela primeira vez, antes mesmo de conhecê-la. Há tantas construções banais, e a coisa mais bela é deixar essa emoção positiva aos outros. Para isso, é preciso ir dentro de si, olhar e acreditar em suas experiências. No fim, se trata de transformar sonhos em realidade."

Colaborou MARIO GIOIA, da Reportagem Local



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