São Paulo, domingo, 30 de maio de 2010

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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

Ana Rica S.A.

Ana Hickmann e o marido, Alê, trabalham dia e noite para transformar a apresentadora na " Oprah Winfrey do Brasil , loira e de olhos azuis num país de gente parda"

Marlene Bergamo/Folhapress
Na fábrica, com anéis de sua grife, experimenta roupas que também levam seu nome

Ana Hickmann corre sobre a esteira de uma academia em Perdizes. O celular toca. É o marido dela, Alexandre Corrêa, o Alê, que liga pela sétima vez no período de 50 minutos em que a apresentadora vence o equivalente a 7,5 quilômetros. "Amor, é aquilo que eu te falei. Fechado. Lógico. Certo." Ana desliga. Sem dizer tchau. Nem mandar beijo.

Os dois se falam "milhares de vezes por dia", mas sempre e só sobre trabalho.
"A Ana tem que performar!", diz Alê. "Tem dias em que eu trabalho 17 horas. São 35 pessoas que dependem de mim, entre empregados e familiares." Alê interrompe: "Não! Com a família, são 42".

Ana, diz o marido, "é movida por uma ambição descontrolada. "É tudo meu, eu faço, eu mando!". É a psicose dela. Já joguei a toalha".

Alê diz que era "um convicto derrotado antes de conhecer a Ana. Fui modelo frustrado até 1992. Fui para o mercado financeiro e nunca arrumei emprego decente. Fiz faculdade de economia e não consegui me formar".

Tudo começou a mudar quando, promotor de um clube noturno em SP, Alê conheceu a modelo. Ela tinha 15 anos. Ele, 24. Dois anos depois, aos 17, Ana foi emancipada. Os dois se casaram e foram para Paris. De lá, para Nova York, onde dividiram um quarto e sala na rua 36, entre a Park Avenue e a Madison. Enquanto a mulher bombava nas passarelas, Alê, desempregado, "limpava a casa, fazia as compras, cozinhava, lavava a louça, as roupas... lavei calcinha dessa garota até [não poder mais]!"

Hoje, os 14 produtos com a marca "Ana Hickmann" (óculos, bolsas, jeans, esmaltes, desodorantes, biquínis, lingeries, toalhas etc.) faturam R$ 290 milhões no varejo e no atacado.
Ela fica com 10% disso, menos os impostos. Como apresentadora da TV Record, recebe R$ 300 mil por mês, entre salário e merchandising. E não sai de casa por menos de R$ 40 mil, seu cachê de presença para ficar duas horas numa festa.

"Começamos sem nada.
O Alê vendeu um equipamento de som e discos de vinil, que eram o xodó dele, pra gente poder viajar [até Paris].
A gente batalhou junto, sofreu junto e agora estamos na bonança juntos." Tudo o que é dela é dele. "Eu sou a figura ali na frente, mas o trabalho é igual para os dois."

"Sempre me considerei um produto. Parece cruel, mas é verdade", diz Ana. "E o produto precisa ir à academia para manter a aparência e a saúde. Se ficar doente, não consegue gravar na TV, fazer fotos, trabalhar. Ele cuida do resto." Resumindo: "É um produto que a gente criou junto e que administra junto: o produto Ana Hickmann".

O "produto" acorda às 6h30. Depois de cinco anos sem fazer ginástica direito e de chegar a 72 kg, distribuídos em 1m85, Ana decidiu, em janeiro, entrar em forma a qualquer custo. Passou a treinar seis dias por semana, inicialmente por quase cinco horas, e agora por quase três horas. Já perdeu 5 kg.

Depois da ginástica, Ana passa em casa para se arrumar. Engole um copo de Isopure, um soro de proteínas de gosto esquisito -e esse é o seu almoço.

Às 15 horas, à bordo de seu Mini Cooper, da BMW, que não custa menos de R$ 90 mil (e no qual acomoda as pernas de 94 cm), ela vai para a fonoaudióloga. "Ela fala rápido, engole palavras", diz Alê. "A gente vai entregar para o mercado uma Ana Hickmann diferente, sem esses problemas. A Record já gastou muito e ela tem a obrigação de dar certo.
É isso, ou o castelo de cartas cai. Acabam royalties, mansão, carro caro. Não que isso nos faça menos gente. Mas é mais difícil depois que você sentiu o sabor da coisa."

"A palavra "perder" não está no nosso dicionário", diz ele. O Ibope do programa de Ana aos domingos, das 12h às 16h, concorrendo com Eliana, do SBT, virou obsessão. "A Ana Hickmann tem que ir para o domingo para matar ou morrer. Tem que acordar todos os dias com sangue nos olhos. Se não odiar o concorrente, você é um frouxo. Com mão mole, não machuca ninguém. Fere, mas não tira a pessoa de combate."

Às 17 horas, a apresentadora atravessa a cidade para visitar, na Mooca, a fábrica de roupas com sua grife. Ao volante, diz que, aos 29 anos, tem vontade de ser mãe.
"Quando fizer 30, vou soltar as rédeas." Alê é contra. "Somos loucos pra ter bebê. Mas você imagina: a Ana foi obesa na infância. Uma mulher de 1m80... temos que esperar a hora certa."

Na fábrica, ela fiscaliza cada uma das roupas desenhadas pelos estilistas. Só sai de lá às 22h. "Nisso eu não me meto. Ela escolhe todos os produtos", diz Alê. "E tem um departamento em que ela não enfia o nariz. É quando eu digo: "Ana, não gaste mais neste mês!" Ela reluta, simula lágrimas nos olhos. Eu digo: "Chega. Dá um tempo. Você tem a vida inteira. Não precisa gastar tudo em dois dias". Pego um papel e mostro que, se ela gastar isso todo mês, pode faltar lá na frente."

"E o bicho é ambicioso. Gosta de coisa cara e quer vencer." Alê aponta para oito caixas de objetos de cristal Baccarat que ela comprou para o casarão do Pacambu que estão reformando e para onde se mudam em 2011.
"Todos me têm como um carrasco. "O Alexandre força, força". Mas eu não induzo a Ana a gostar de coisas caras.
Nem a acordar cedo para vencer." "O Alê me chama de general. Fala que sou truculenta pra caramba. E sou mesmo. Exigente, como sempre foram comigo. Nunca me deram a chance de errar."

O romantismo foi deixado de lado "por um tempo pra gente investir e enxergar nosso crescimento sem deslumbramento. Porque com romantismo vêm férias em Paris, esquiar em Aspen, fazer compras em Nova York. E o trabalho e as obrigações ficam para trás", diz o empresário. "Se ficar com "mela mela", todo problema profissional vira sentimental. O circo pegando fogo e você "amorzinho", abraçando o outro para se lamentar? Ah, por favor!"

"Não vamos nos enganar: a Ana entrou na TV 100% por causa da beleza dela. Hoje, ela se mantém lá 70% pela beleza e 30% pela capacidade de entreter. Em cinco anos, a gente quer que essa relação seja de 60% a 40%." O tempo vai passar.
Até lá, o casal espera que a marca da apresentadora se fortaleça de tal forma que "ande de maneira independente e gere receita pra aí então a gente aproveitar a vida". "É como a [estilista] Carolina Herrera", que, aos 71 anos, dá nome a roupas e perfumes. Entre outras coisas, Ana, que largou a escola no 2º colegial, pretende voltar a estudar. Quer fazer faculdade. Talvez, jornalismo.

O patrão Edir Macedo é o maior ícone dela. "O ser humano pode muita coisa. Basta querer", disse ele numa palestra a que Ana assistiu.
"Foi uma coisa muito forte pra mim." Em segundo lugar, ela coloca a família Marinho, das Organizações Globo, "pelo império e a tecnologia que conseguiram construir". Admira Hebe Camargo "que venceu barreiras na TV e também na vida".

Mas é a apresentadora americana Oprah Winfrey, 56, que coloca "no Olimpo".
"É uma mulher que veio lá de baixo e construiu seu próprio império, seu canal de TV, sua revista, sua marca. Ao mesmo tempo, se dedica à família e é feliz." Essa é a meta? Sim, diz Alê. "A Ana vai ser a Oprah Winfrey do Brasil, loira e de olhos azuis num país de gente parda."

ALEXANDRE DISSE
"A Ana é movida por uma ambição descontrolada. Gosta de coisas cara e quer vencer"

"Lavei calcinha dessa garota até [não poder mais]!"
ALEXANDRE CORRÊA
marido e empresário de Ana Hickmann



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