São Paulo, domingo, 30 de maio de 2010

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Quino em crise

Em entrevista à Folha, artista fala da pausa criativa e lança olhar melancó lico sobre o mundo

TARSO ARAUJO
DE SÃO PAULO

"Não gosto de matérias jornalísticas. E me sinto um idiota posando para fotos. Mas como estão saindo esses livros aí, achei que deveria fazer", diz o cartunista argentino Quino à Folha, por telefone, de Buenos Aires.
Os livros que fizeram Joaquín Salvador Lavado -o nome que consta no RG de Quino- deixar de lado sua reticência a entrevistas são coletâneas de cartuns publicados após 1973, ano da "morte" da Mafalda, sua mais célebre personagem.
Os volumes são "Humanos Nascemos" (1991) e "Que Presente Inapresentável" (2004). Nesta semana, chega às livrarias do país "10 Anos com Mafalda" (Martins Fontes, R$ 45, 190 págs.)
A tradução em português desta coletânea de tiras está separada por assunto e tem textos inéditos de Quino, introdutórios a cada bloco.
Embora tenha projetado Quino internacionalmente, Mafalda é "apenas uma mínima parte" de sua carreira, como ele diz. Foram 55 anos de uma intensa produção, que ele decidiu suspender em abril do ano passado.
Aos 77, ele diz que cogita voltar a criar, mas não estabelece prazo para enfrentar de novo a angústia de preencher o papel branco. Quino é avesso ao computador, que afirma não usar.
As coletâneas agora lançadas deixam claro que, se na Mafalda Quino tinha a figura infantil para amenizar a seriedade dos temas -corrupção, opressão etc.-, nas obras posteriores seu humor ganha um ar tão grave que quase perde a graça.
Há um tom de desilusão sob o olhar de quem passou mais de cinco décadas apontando os problemas do mundo e só os viu crescer.


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