São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 2000


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"VIVE L'AMOUR"
Cineasta malaio Tsai Ming-Liang retrata deserto das cidades

DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Se a expressão "mal-estar da civilização" tem alguma validade, é na atmosfera insalubre e rarefeita dos filmes de Tsai Ming-Liang que ela se concretiza de modo mais cabal.
Quando o cinema desse diretor malaio radicado em Taiwan aportou no Brasil com "O Rio" (1997), ele já havia conquistado o Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza com "Vive l'Amour" (1994), agora finalmente lançado por aqui.
Como os outros filmes de Ming-Liang, "Vive l'Amour" concentra-se na vida descolorida de uns poucos personagens e, mais que isso, na infinita distância que parece separar suas almas, mesmo quando seus corpos dividem o mesmo espaço.
Em "Vive l'Amour", esses seres infelizes são um vendedor de jazigos, uma corretora de imóveis e um camelô, pinçados entre os milhões de indivíduos que se cruzam todo dia nas ruas de Taipé.
O acaso faz com que eles se encontrem num apartamento desabitado da cidade. A corretora encarregada de vendê-lo leva para lá o camelô, pensando numa aventura sexual sem compromisso, sem saber que o jovem vendedor de jazigos está ocupando clandestinamente o lugar.
Por um tempo os amantes e o rapaz convivem sob o mesmo teto sem se ver, como se se movessem em dimensões diferentes.
Esse apartamento desolado, onde se destila o doloroso nada de cada personagem, é o mundo de Ming-Liang por excelência -um mundo em que, adoecidos por suas carências essenciais, os indivíduos não logram comunicar-se uns com os outros.
Fora de lá não é diferente: o espaço, as pessoas, os objetos -tudo é tão banal que configura uma terra estrangeira, inóspita e hostil a toda vida humana.
Ming-Liang filma esse deserto espiritual com um rigor assombroso. Não há desvio sentimental, concessão ao espetáculo ou tentativa de explicação moralizante que distraia ou amenize seu retrato implacável.
Um cinema essencial, de investigação humana, sintetizado numa das cenas mais extraordinárias da última década, aquela em que, escondido sob a cama, o vendedor de jazigos se masturba enquanto, um palmo acima dele, os dois amantes fazem um sexo furioso e sem afeto. (JGC)


Vive L'Amour
Aiqing Wansui      Direção: Tsai Ming-Liang Produção: Taiwan, 1994 Com: Yang Kuei-Mei, Chen Chao-Jung, Lee Kang-Sheng Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco 1




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