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Crítica/"Carros"
Animação critica a velocidade do mundo com olhar saudosista
DA REPORTAGEM LOCAL
Há algo estranho em
"Carros", o milionário
novo filme da Pixar,
mas nem se trata do fato de este
ser um mundo habitado por seres automobilísticos em vez de
seres humanos, em que os personagens digitais, sem braços,
dependem mais do que nunca
dos olhos para se expressar.
O trabalho de animação por
computador está ainda mais
impecável do que nos anteriores e excepcionais "Toy Story"
e "Procurando Nemo", a idéia é
promissora, já que embarca de
vez em um universo de faz-de-conta, mas as piadas e o domínio do ritmo -que sempre foram a verdadeira base de sustentação para tanto virtuosismo tecnológico- parecem ter
morrido no caminho. Nada que
incomode as crianças ou adultos obcecados por carrinhos,
claro, o que dá quase na mesma.
Fábula moral moldada para
as gerações do videogame -ou
de filmes como "Velozes e Furiosos", o que também dá quase
na mesma-, "Carros" critica
esse opressor mundo veloz dos
dias de hoje, que impossibilita
relações pessoais mais humanas. É uma ode ao passado.
De início temos um herói jovem e arrogante, Relâmpago
McQueen, carro que é a nova
sensação da temporada de corridas. Relâmpago tem pressa,
não dá valor ao trabalho em
equipe e acredita que o mundo
irá girar ao seu redor.
Faltando uma única corrida
para se tornar o novo campeão
da badalada Copa Pistão, ele se
perde na auto-estrada para ficar literalmente preso em Radiator Springs, cidadezinha decadente que em seus dias de
glória era um movimentado
ponto da mítica Rota 66.
Reavaliação
Obrigado a prestar serviço
comunitário por uma série de
contravenções, Relâmpago será forçado a diminuir sua velocidade, aprender a conviver
com carros de bom coração que
não se impressionam com seus
feitos na cidade grande e, enfim, reavaliar seu modo de vida.
Se a metáfora é óbvia mas inteligente, ao dizer que o homem de hoje está tão desumanizado que mais se parece uma
máquina, ela acaba se chocando com a própria história da Pixar, o que diminui a credibilidade dessa mensagem moral.
Estaríamos vendo a própria
história da companhia em
"Carros"? John Lasseter, o diretor do filme, comanda a empresa que revolucionou o mundo da animação e que recentemente foi comprada pela Disney em transação milionária.
Com a fórmula alta tecnologia + ótimas histórias, a Pixar
jogou a tradicional Disney a um
relativo escanteio. Com "Carros", é como se Lasseter dissesse que os carros velhos de tempos antigos (Disney?) guardassem a verdadeira sabedoria,
numa espécie de mea-culpa
que gira em círculos a 300 km
por hora.
(BRUNO YUTAKA SAITO)
CARROS
Direção: John Lasseter
Produção: EUA, 2006
Quando: a partir de hoje nos cines
Interlagos, Paulista e circuito
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