São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 2006

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Crítica/"Carros"

Animação critica a velocidade do mundo com olhar saudosista

DA REPORTAGEM LOCAL

Há algo estranho em "Carros", o milionário novo filme da Pixar, mas nem se trata do fato de este ser um mundo habitado por seres automobilísticos em vez de seres humanos, em que os personagens digitais, sem braços, dependem mais do que nunca dos olhos para se expressar.
O trabalho de animação por computador está ainda mais impecável do que nos anteriores e excepcionais "Toy Story" e "Procurando Nemo", a idéia é promissora, já que embarca de vez em um universo de faz-de-conta, mas as piadas e o domínio do ritmo -que sempre foram a verdadeira base de sustentação para tanto virtuosismo tecnológico- parecem ter morrido no caminho. Nada que incomode as crianças ou adultos obcecados por carrinhos, claro, o que dá quase na mesma.
Fábula moral moldada para as gerações do videogame -ou de filmes como "Velozes e Furiosos", o que também dá quase na mesma-, "Carros" critica esse opressor mundo veloz dos dias de hoje, que impossibilita relações pessoais mais humanas. É uma ode ao passado. De início temos um herói jovem e arrogante, Relâmpago McQueen, carro que é a nova sensação da temporada de corridas. Relâmpago tem pressa, não dá valor ao trabalho em equipe e acredita que o mundo irá girar ao seu redor.
Faltando uma única corrida para se tornar o novo campeão da badalada Copa Pistão, ele se perde na auto-estrada para ficar literalmente preso em Radiator Springs, cidadezinha decadente que em seus dias de glória era um movimentado ponto da mítica Rota 66.

Reavaliação
Obrigado a prestar serviço comunitário por uma série de contravenções, Relâmpago será forçado a diminuir sua velocidade, aprender a conviver com carros de bom coração que não se impressionam com seus feitos na cidade grande e, enfim, reavaliar seu modo de vida.
Se a metáfora é óbvia mas inteligente, ao dizer que o homem de hoje está tão desumanizado que mais se parece uma máquina, ela acaba se chocando com a própria história da Pixar, o que diminui a credibilidade dessa mensagem moral.
Estaríamos vendo a própria história da companhia em "Carros"? John Lasseter, o diretor do filme, comanda a empresa que revolucionou o mundo da animação e que recentemente foi comprada pela Disney em transação milionária.
Com a fórmula alta tecnologia + ótimas histórias, a Pixar jogou a tradicional Disney a um relativo escanteio. Com "Carros", é como se Lasseter dissesse que os carros velhos de tempos antigos (Disney?) guardassem a verdadeira sabedoria, numa espécie de mea-culpa que gira em círculos a 300 km por hora. (BRUNO YUTAKA SAITO)

CARROS    
Direção: John Lasseter
Produção: EUA, 2006
Quando: a partir de hoje nos cines Interlagos, Paulista e circuito


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