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Pai de Snoopy "fazia tudo à moda antiga", diz viúva
Nos 60 anos de Charlie Brown, viúva de Charles Schulz fará exposição no Brasil
"Schulz era um artesão que sabia deixar interessante uma tira em que, na verdade, não acontecia nada", diz Jeannie Schulz
CLARICE CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Snoopy, Charlie Brown e
companhia passaram por uma
longa jornada juntos e hoje, aos
60 anos de idade, têm suas histórias à venda até no iTunes.
Caminho inimaginável para
seu criador, o americano Charles Schulz (1922-2000). Estreou em outubro de 1950 as tirinhas "Peanuts" em sete jornais. Hoje, elas são publicadas
em 75 países, lidas por 330 milhões de leitores e ganham de
aniversário uma exposição e
um musical (leia abaixo).
"Um mundo em que você pode ter Charlie Brown dançando
no seu celular seria incompreensível para ele, que não teve nem computador", diz a viúva de Schulz, Jeannie, 70, em
entrevista à Folha.
Essa realidade fica ainda
mais distante quando se pensa
que era um homem que "fazia
tudo à moda antiga", completa
Jeannie. Todos os dias, ia para
o estúdio das 9h às 16h e trabalhava no mesmo lugar.
Lá, traçava à mão cada linha
-ele próprio desenhou as tiras
até morrer de complicações de
um câncer de cólon, um dia antes de sua última tira dominical
ser publicada.
A turma de Charlie Brown
teve início um pouco antes de
1950, quando o cartunista, conhecido como Sparky, tentava
emplacar sua carreira com as
tiras dos Coleguinhas ("Li'l
Folks", em inglês). Foi quando
vendeu a tira para a United
Feature Syndicate, que a rebatizou para "Peanuts", um título
de que ele nunca gostou muito.
Schulz raramente refazia
uma linha. Desenhava primeiro um rascunho leve que mal se
via (às vezes, nem tinha de ser
apagado depois)."Parecia que
as ideias saíam de sua cabeça,
passavam pelo braço e chegavam à mão e ao lápis. Para desenhar uma emoção, precisava
senti-la. Então, esperava sentir
a tristeza de Linus quando perdia seu cobertor, por exemplo",
conta.
A velocidade com que o cartunista desenhava era outra característica que impressionava
Jeannie, casada com o artista
desde 1973. "Ficou mais rápido
conforme os personagens evoluíam. As tiras dos anos 50
eram mais detalhadas do que
as dos anos 90. Acho que os
personagens passaram a significar algo por si e não precisavam mais do cenário."
Exposição no Brasil
Não raro, Schulz se valia de
seus personagens para expressar suas emoções e fatos de sua
vida. O próprio Snoopy foi inspirado num cão que teve quando criança.
"Acho que era um tanto
exaustivo emocionalmente,
mas era o que as fazia autobiográficas. Cada personagem era
um pedaço seu."
Hoje, Jeannie trabalha no
Museu Charles M. Schulz, em
Santa Rosa, Califórnia, que como parte das comemorações
dos 60 anos, enviará ao Brasil
cópias de tiras históricas que
serão expostas em lugares ainda não definidos (provavelmente em shoppings).
"Preparamos uma aula de
história para falar das origens
das tiras, da importância das
HQs e de como Schulz era um
artesão que sabia deixar interessante uma tira em que, na
verdade, não acontecia nada."
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