São Paulo, terça-feira, 30 de junho de 2009

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Ânimo não esconde erros de Nando Reis

Em show de lançamento de "Drês", imperfeições se sobrepõem à empolgação do cantor e de sua banda

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
EDITOR DO FOLHATEEN

Assistir a um show sentado à mesa ou em pé, com o espaço livre para a plateia, faz muita diferença.
Ao atual de Nando Reis, assiste-se sentado -ao menos em São Paulo, onde a turnê de "Drês", seu disco mais recente, aportou no último fim de semana. E essa escolha, aparentemente trivial (e, certamente, comercial), é um equívoco.
Porque, ao vivo, Nando Reis é basicamente empolgação -ele parece realmente sentir suas letras, quase todas pessoais e apaixonadas, e suas melodias, entregando-se às canções abertamente, sem medo de parecer ridículo ocasionalmente.
Tudo lindo, se o público estiver nessa onda, mas, estando sentado, é mais complicado acompanhar essa empolgação. Aí, a observação se fixa nas imperfeições do show, que o ânimo do cantor não esconde.
Elas são muitas, a começar pela voz oscilante de Nando, por sua pronúncia não raro truncada e ininteligível. Suas letras, que tanto impactam seus fãs nos discos, perdem clareza ao vivo -e, por extensão, perdem impacto.
Outro problema é a tendência do cantor e compositor a seguir o método Gilberto Gil de digressionar entre as canções. Exemplo do show em questão:
"Há certas formas de dizer certas coisas que nem sempre parecem certas, mas, quando elas acertam o coração, parecem compensar...", diz Nando.
"Toca!", grita alguém da plateia, tentando interromper (em vão) a divagação.
Quando chama ao palco Ana Cañas, para o dueto em "Pra Você Guardei o Amor", Nando fala em "colisões astronômicas". No telão, durante a canção, imagens de cisnes em um lago. E você lá, sentado numa mesa entre baldinhos de cerveja, aperitivos e desconhecidos.

"Drês" quase na íntegra
O roteiro da apresentação, com pouco mais de 20 canções, traz nove das 12 músicas de "Drês", um disco que alterna uma pegada mais roqueira (como em "Mosaico Abstrato", que abre o show) com baladas (como "Conta", feita para a mãe) e melodias acústicas animadinhas (tipo "Mil Galáxias").
Há uma sequência de três canções dedicada aos filhos, uma breve homenagem a Michael Jackson (com um trecho de "Wanna Be Startin" Somethin'") e as baladas que o povo quer ouvir, como "All Star".
E há, já perto do bis, uma empolgação maior do público, que levanta das mesas para tentar aproveitar mais o pouco que resta do show.

Avaliação: regular


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