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Twitter espreme e divulga romances
Adaptações de clássicos ou criações originais podem ser vistas no sistema on-line de mensagens de até 140 caracteres
Experiências literárias incluem de performance com vários personagens de "Ulysses", de Joyce, a "contos nanicos" de Marcelino Freire
RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL
Em tempos de Twitter, o sistema on-line de troca de mensagens de até 140 caracteres,
um romance como "Orgulho e
Preconceito" poderia ficar assim: "Mulher encontra homem
chamado Darcy que parece
horrível. Ele mostra ser realmente legal. Eles ficam juntos."
A sinopse bem-humorada da
obra de Jane Austen está em
"The Little Book of Twitter",
compilação recém-lançada de
mensagens "tuitadas" na rede.
Os resumos são feitos a título
de piada, mas alguns usuários
têm levado a sério as possibilidades literárias do sistema.
Na semana passada, dois estudantes americanos anunciaram que lançarão neste ano, pela Penguin, o livro "Twitterature", com versões de romances
no estilo do Twitter -a meta é
que nenhum deles passe de 20
trechos com 140 caracteres ou
menos cada um. A lista inclui
de Shakespeare a J.K. Rowling.
O projeto recebeu destaque
em sites do mundo todo. Mas o
criador do mais famoso evento
literário do Twitter -a performance "Twittering Rocks", que
leva ao sistema, uma vez por
ano, um capítulo de "Ulysses",
de James Joyce- acredita que
o "Twitterature" não explora as
possibilidades do serviço.
"Eles vão abordar só a extensão dos textos, não a temporalidade", desdenha Ian Bogost,
32, professor do Instituto
Georgia de Tecnologia (EUA).
Em 2007, Bogost e um colega
resolveram refazer, no Bloomsday (feriado irlandês de 16 de
junho que celebra a obra de
Joyce), o capítulo dez do romance. "Entusiastas pensam
várias formas de refazer os passos dos personagens nesse dia,
mas mesmo novas tecnologias
não capturam a complexidade
da escrita", diz. Os dois refizeram o capítulo em uma série de
trechos com 140 caracteres ou
menos. Registraram 54 personagens como usuários do Twitter e criaram um programa para "tuitar" cada uma das falas
na mesma sequência do livro.
Bogost não é fã do Twitter,
que avalia como um "serviço
selvagemente e ingenuamente
considerado uma ferramenta
de comunicação". Mas acredita
que seu projeto ajuda a "passar
da egomania para a reflexão."
Romance original
O americano Nick Belardes,
40, chama para si o mérito de
ter criado o primeiro "romance
literário original" do Twitter
dentre uma série que existe na
rede. Iniciou "Small Places",
misto de história de amor e paródia corporativa, em abril de
2008. "A construção linha a linha da trama é um desafio", diz.
Desafio também é ler os mais
de 600 trechos que ele já postou, já que o Twitter prioriza as
últimas mensagens, escondendo as primeiras -é preciso voltar várias páginas no link "more" até chegar ao começo. "Para
quem pega do meio, há dificuldades perceptíveis", ele admite.
No Brasil, o escritor Marcelino Freire, 42, organizador de
obras como "Os Cem Menores
Contos Brasileiros do Século",
entrou no Twitter neste mês
com o projeto de chegar aos mil
"contos nanicos". Por enquanto, só "tuitou" 12, como "-O
que é iiiisssssoooooo, Padre? /
-O pecado, meu filho". Mas diz
que já tem uns 200 escritos.
"Sempre fui ligado em microformatos, eles são ideais para o
mundo atropelado em que vivemos. O Twitter tem um formato que, de alguma forma, representa o que toda boa literatura deve ser: enxuta", diz.
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