São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 2011

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Nelson em revista

Publicação reúne 50 anos de artigos sobre a obra de Nelson Rodrigues e evidencia a evolução da crítica teatral

Publicação reúne 50 anos de artigos sobre a obra de Nelson Rodrigues e evidencia a evolução da crítica teatral

Divulgação
O jornalista, cronista e dramaturgo Nelson Rodrigues

GABRIELA MELLÃO
DE SÃO PAULO

Nelson Rodrigues nunca quis ser unanimidade -nem foi. A escrita inovadora deste que é considerado o maior dramaturgo brasileiro de todos os tempos foi sempre incompreendida.
Em edição especial, a revista de ensaios "Folhetim", do grupo carioca Teatro do Pequeno Gesto, reúne um generoso dossiê de críticas: 98 artigos escritos entre 1942 e 2009, pesquisados em 15 periódicos brasileiros.
A publicação tem formato de livro e comemora os 20 anos da companhia de teatro, cujo aniversário ainda prevê uma versão de "Antígona", de Sófocles, e a montagem de "Teatro dos Ouvidos", de Valère Novarina.
Uma crítica sem assinatura publicada no "Diário de Notícias", em 1942, sobre "A Mulher sem Pecado", texto de estreia do autor, diz que "o sr. Nelson não faz teatro". Outra, do "Correio da Manhã", de 1944, fala que "Vestido de Noiva", marco do nascimento do teatro moderno do país, "constitui mais uma procura de caminho do que realização plena".
Mais de duas décadas depois, Nelson Rodrigues continuava desafiando a crítica. O escritor e jornalista Paulo Francis, em artigo sobre "Boca de Ouro" no jornal "Última Hora", em 1961, assume já ter escrito "muita besteira" sobre as obras rodrigueanas.
"Nelson não é consenso total. Até hoje tem gente que não entende suas peças", diz Antonio Guedes, diretor do Teatro do Pequeno Gesto.
Conforme documentado no "Folhetim", Macksen Luiz e Sérgio Augusto, entre outros críticos da atualidade, apontaram defeitos de sua dramaturgia. "Nelson Rodrigues, exímio construtor de diálogos, não conseguiu transportar para o monólogo ("Valsa Nº 6') essa qualidade de estabelecer um contraponto dramático nervoso", escreveu Luiz no "Jornal do Brasil" em 1994.
O "Folhetim" também evidencia a evolução de um pensamento sobre a obra de Nelson Rodrigues. "Só agora se começa a pensar sobre suas peças em uma perspectiva diferente da abordagem psicológica", opina Guedes.
A pesquisadora Fátima Saadi, tradutora e dramaturgista do grupo, conta que, de início, a chave de análise era basicamente temática: "A trama era estudada do ponto de vista psicológico, arquetípico ou da comédia de costumes, compreendida como reflexo da realidade carioca".
Segundo ela, a questão da moralidade assumiu lugar excessivo nos debates públicos sobre o autor.
"As novidades formais apresentadas pelas obras foram sendo valorizadas aos poucos, a partir, sobretudo, de montagens que as reconheciam em vez de recalcá-las, como o trabalho de Antunes em "Nelson Rodrigues, o Eterno Retorno", "Nelson 2 Rodrigues" e "Paraíso Zona Norte'", avalia Saadi.
Guedes diz que os críticos estão longe de esgotar as possibilidades de leitura do autor. "Só agora começamos a tocar no que há de efetivamente moderno em suas estruturas narrativas. Este número de "Folhetim" é um sinal de que finalmente começamos a enxergar Nelson para além do episódico", afirma.
"Folhetim" será lançado no dia 20, mas já pode ser adquirido através do e-mail folhetim@pequenogesto.com.br.


FOLHETIM

AUTOR vários
EDITORA Pão e Rosas
QUANTO R$ 35 (432 págs.)

FOLHA.com

Confira mais críticas de peças do dramaturgo
folha.com.br/il936440


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