THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

Por causa de um aparelho de ar-condicionado, quase deu tudo errado. Mas o resultado está aí: "Live at Skol Beats: 04", o primeiro disco compilado ao vivo por um DJ brasileiro, Anderson Noise, chega às lojas nesta semana.
Sucesso de público (quase 50 mil pessoas), o festival, que aconteceu em abril passado, em São Paulo, sofreu com diversos problemas no sistema de som, e vários sets foram prejudicados. Entre eles, o de Anderson Noise.
Mas, do começo: o DJ mineiro planejava há cerca de dois anos lançar um álbum gravado ao vivo, durante alguma apresentação sua. Inicialmente, o plano era produzir o CD em algum clube.
"O conceito do disco eu já tinha na minha cabeça. A idéia de gravar no Skol Beats veio da minha namorada. Disse que não haveria lugar melhor do que o festival. Eu até achava que não seria possível, que não iriam autorizar, mas fomos negociando, eles gostaram da idéia e liberaram", conta.
Noise chegou ao evento com 25 músicas pré-escolhidas; já havia conseguido seus licenciamentos. Ele tinha 1h30 de set. A idéia era tocar primeiro aquelas que entrariam no disco e, nos minutos finais, terminar com canções que dessem uma cara de festa à sua apresentação. Mas logo após a terceira música, o sistema de som da tenda começou falhar.
"Entrei em desespero. O volume oscilava entre o máximo e o mínimo em questão de segundos. Em seguida, parou tudo."
Segundo Anderson Noise, os técnicos atribuíram o problema a uma má ligação da fiação elétrica. "O computador do VJ da tenda sofreu um curto-circuito, porque alguém havia ligado o ar-condicionado do backstage na mesma saída em que estavam conectados os meus aparelhos. Aí deu um novo curto no gerador."
De acordo com o DJ, o local ficou 22 minutos sem música. "Eu falei: "Se não arrumarem isso direito, eu não volto". Mas depois conseguiram consertar. E chegou a ser emocionante para mim porque o público não saiu da tenda."
Noise recomeçou tudo de novo. Desde a primeira canção. E aí foi possível a gravação deste "Live at Skol Beats". "Naquele momento, vieram várias coisas à cabeça, inclusive que o álbum não iria sair. Mas lá pela quinta música o apetite voltou", afirma.
Gravado direto da mesa de som, o disco registra um animado e vibrante set de tecno, com o público ao fundo gritando e aplaudindo.
Aos 35, morando entre São Paulo e Belo Horizonte e com um filho de quatro anos, Noise é DJ experiente, sabe como conduzir uma pista. No álbum, se utiliza de coisas como "Off the Heezzay", de Brian Cox, "Evolving", de Ignacio, "Moroccan Chant", de Carl Cox, e várias músicas de seu selo, o Noise Music.
"Live at Skol Beats" ganha lançamento nacional (pela gravadora ST2) e internacional. "Optamos por fabricar o CD aqui no Brasil, onde temos um preço bem competitivo, e exportar para a [européia] Intergroove, que distribuirá o disco no resto do mundo", explica o DJ.
Acostumado a tocar em países como Inglaterra e Bélgica, Noise vem se destacando também com seu selo. Já lançou seis EPs. O próximo, com a música "Copacabana", traz remixes do chileno Paco Osuna e do belga Stanny Franssen; sai em agosto na Europa.
"Há uma barreira na Europa para selos que não são de lá. Estamos conseguindo furar isso. Chegamos a vender cerca de 4.000 cópias de nossos discos."
Com o surgimento de equipamentos como o Final Scratch, que permite aos DJs tocarem seus sets a partir de arquivos em MP3, o mercado de venda de vinil caiu sensivelmente. "Hoje não há mais o volume de lançamentos que existia há sete, oito anos, e aumentou muito o número de produtores. Isso, por conseqüência, diminuiu a força e a representatividade das gravadoras. Mas o mercado de vinil continuará vivo. Não inventaram um formato tão legal para tocar quanto o vinil."