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MÚSICA
Prática foi "institucionalizada"
Pagamento de "jabá" deve persistir no país
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
No início da semana, um promotor de Nova York ganhou disputa judicial contra a Sony BMG,
e a gravadora foi obrigada a pagar
US$ 10 milhões (R$ 24 milhões)
de indenização por ter oferecido
somas financeiras a DJs e programadores de rádios para ter músicas de seus artistas veiculadas. Em
bom português, pagava jabá. Comemorado em princípio, o resultado não deve, porém, ter resultados práticos nem lá nem aqui.
Essa é, pelo menos, a opinião de
gente ouvida pela Folha. "Nos
EUA já houve ações como essa
nos anos 50, nos anos 60 e em
meados dos anos 80. Nunca conseguiram acabar com o jabá. Não
encontro elementos que me façam acreditar que isso será erradicado por causa dessa multa",
disse João Marcello Bôscoli, presidente da gravadora Trama.
"Não é uma vitória contra o jabá, apenas um referencial", afirma o cantor Lobão. "É um bom
momento para que a opinião pública discuta os prejuízos que isso
causa à formação musical."
O problema é antigo no Brasil
-há quem diga que a partir dos
anos 60 programadores de rádios
começaram a receber para tocar
determinadas músicas. Em 2003,
o deputado Fernando Ferro (PT-PE) levou ao Congresso projeto
de criminalização da prática do
jabá. A proposta está parada.
"É um assunto tabu nesse meio.
A lei pode até não resolver completamente o problema, mas criará empecilhos para aqueles que
praticam isso de forma escancarada", afirmou o deputado.
Atualmente, o jabá está maquiado e foi institucionalizado como "verbas de promoção": as gravadoras compram espaço publicitário nas rádios e, em troca, têm
seus artistas veiculados. "Isso é
criminoso. É venda de espaço público", indigna-se Lobão. "Estão
tentando moralizar o jabá. O Brasil é o país do jabá. O "mensalão" é
um grande jabazão..."
Para Bôscoli, a prática poderia
ser mais "transparente". "As gravadoras estão com menos grana,
então o dinheiro de promoção diminuiu muito. Não é a solução,
mas seria mais transparente se o
locutor anunciasse: "Você está ouvindo essa música como patrocínio da gravadora tal"."
Segundo pessoas ligadas a rádios ouvidas pela Folha e que não
quiseram se identificar, quase
90% das músicas novas têm que
ter algum investimento de suas
gravadoras para serem tocadas.
Em reportagem publicada na
última quinta-feira pelo "New
York Times" executivos de selos
independentes afirmam que o esquema do jabá deve persistir devido à enorme estrutura que cerca
as gravadoras grandes. Há casos
de empresas que pagam pessoas
para ligarem às rádios e pedirem
canções como se fossem ouvintes.
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