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Homem com H (e como sou!)
Professor de filosofia de Harvard, que lança livro em defesa do macho feliz com sua condição, critica a onda metrossexual e vê declínio do feminismo
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
"Não há nada errado em
olhar sua mulher fundo nos
olhos e dizer, sem medo: "Sim,
querida, em algumas situações,
eu sou superior a você"."
Quem diz isso não é Zeca
Bordoada, personagem que era
o estereótipo do machão popularizado pelo extinto "TV Pirata", mas um dos titulares de filosofia política de Harvard.
Harvey Mansfield é autor de
"Manliness" (masculinidade,
da Yale University Press), em
que defende os pontos da frase
acima: homens são diferentes
das mulheres, sim, em alguns
aspectos superiores e deveriam
ter orgulho disso. Ah, e o metrossexual é uma aberração da
natureza e deveria morrer. Em
seu lugar, o retrossexual.
Seu recém-lançado livro
abriu caminho para manifestações culturais que vão na mesma linha e pregam uma renascença, vá lá, do "machismo esclarecido" (veja nesta pág.).
Polêmicas não são estranhas
a esse professor de sociologia
de 74 anos, que ensina em Harvard desde 1962 e se casou em
1979 com uma ex-estudante
sua. Quando o ex-reitor Law-
rence Summers anunciou que
iria deixar seu cargo após uma
série de brigas com diversos setores de universidade, ele foi
um dos únicos a ir a público em
defesa do amigo. Também foi
das poucas vozes a defender o
intrusivo programa de vigilância doméstica implantado pelo
presidente George W. Bush.
Na entrevista que deu à Folha, por telefone, Mansfield explica a teoria de "Manliness",
de que vivemos numa sociedade "comum de dois gêneros", e
por que isso é ruim.
FOLHA - O sr. foi citado por um jornal dizendo: "Os homens devem parar de ter vergonha de ser homens".
Como assim?
HARVEY MANSFIELD - Os homens
de hoje vivem numa sociedade
comum de dois gêneros, em
que o gênero deve importar o
mínimo possível, portanto as
diferenças entre os dois sexos
são geralmente desprezadas e
quase apagadas. Mas é uma característica do homem-macho
que ele insista em seu sexo e
nas características que acompanham seu gênero. Acredito,
portanto, que a masculinidade
bata de frente com essa sociedade. Esse é o motivo principal
pelo qual escrevi o livro.
FOLHA - Como categorizaria o metrossexual dentro desta sociedade?
MANSFIELD - O metrossexual é o
oposto do homem-macho, ele
enfatiza o homem sensível. O
homem sensível tenta ser aceito pelas mulheres pela proximidade que tem com elas. O
metrossexual quer agradar, enquanto o homem-macho nem
percebe que há outras pessoas
à sua volta. Ele nem pensa em
que impressão pode passar fazendo as coisas de um jeito ou
de outro. Ele não tenta ser aceito, ele está feliz de ser como é.
FOLHA - Artigos mencionam seu livro como a plataforma intelectual
de um fenômeno que está sendo
chamado de "dudelit". A "Time" o
batizou de "menaissance". Existe
mesmo esse movimento?
MANSFIELD - Sim, acho o fenômeno interessantíssimo e gosto de ver que está ganhando espaço na mídia. Meu livro provocou muito mais respostas do
que imaginava. Acho que a
masculinidade está voltando à
moda e que o feminismo está
perdendo espaço. Com certeza
as mulheres estão insistindo
menos em viver em uma sociedade comum de dois gêneros.
FOLHA - Qual a diferença entre
masculinidade e machismo?
MANSFIELD - Acho que o machismo é uma masculinidade
levada ao extremo e pelo que
sei os latinos gostam de praticá-lo.
Sou favorável ao
machismo, porque
acho que, para enfatizar uma idéia, às
vezes é necessário
exagerar um pouco.
Mas é necessário fazer a
distinção entre ser masculino e ser sexy, e acredito que os
latinos nem sempre fazem essa
distinção. Acho que Marcello
Mastroianni era um homem
sexy. Sexy no meu ponto de
vista está mais próximo do
conceito de homem sensível
que do homem-macho. Acho
que John Wayne seria um
bom exemplo de como é o
homem-macho, ele é muito
masculino. É atraente para
as mulheres, mas não parecia prestar atenção a isso.
FOLHA - Então um homem-macho seria aquele que acorda
de manhã e não se olha no espelho, é isso?
MANSFIELD - Exatamente.
FOLHA - O sr. concorda com
analistas que dizem que existe
uma propaganda feminista por
trás do retrato dos homens na cultura atual?
MANSFIELD - Sim, mas há algumas exceções. O programa de
TV "Desperate Housewives",
por exemplo, mostra bem os
problemas dessa cultura dominada pelo feminismo. Diz que
os homens e as mulheres são
diferentes e o que acontece
quando você tenta agir como se
as diferenças não existissem. É
diferente do modo como os homens eram retratados em "Sex
and the City". Aquele programa
era dominado pela propaganda
feminista, que eu particularmente acho muito irritante.
FOLHA - Seu livro prega que as pessoas deveriam voltar a seus papéis
tradicionais, "como a natureza queria". Também diz que as mulheres
são inferiores aos homens em certos
aspectos. O sr. quer dizer que os homens deveriam caçar e as mulheres
deveriam ficar em casa procriando?
MANSFIELD - Isso seria simples
demais, já avançamos socialmente e biologicamente demais para isso. Vivemos em sociedades avançadas, que transformaram os papéis dos homens e das mulheres. As mulheres não podem ser tão tradicionais, precisam trabalhar para ajudar a sustentar as famílias. Mas as relações em casa estão confusas, é lá que a tradição
precisa ser mais respeitada.
FOLHA - Sua mulher trabalha. O sr.
faz algum trabalho doméstico?
MANSFIELD - Sim, mas não muito. Mais do que gostaria [risos].
Eu lavo os pratos, tiro o lixo,
mas essas são funções muito
masculinas. Mas eu até lavo a
roupa uma vez ou outra.
FOLHA - Quem é o homem da casa?
MANSFIELD - Sou eu, mas é ela
quem manda [risos].
NA INTERNET - Leia íntegra
www.folha.com.br/062082
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