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MTV faz sátira dos folhetins com "Sinhá Boça"
Além de série com o conquistador mais inepto da ficção, grupo que faz "Hermes e Renato" grava "O Proxeneta"
Quinteto lançado com as aventuras de uma dupla de cafajestes encara com bom humor a falta de estrutura da dramaturgia do canal
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Desfeito o mistério sobre a
identidade da filha de Bia Falcão, é hora de sair à cata de indícios para descobrir quem tentou matar o empresário Franco
Faraco. Quem? Figura proeminente da indústria de latrinas,
ele catalisa o jogo de detetive ao
sofrer um atentado no primeiro capítulo de "O Proxeneta". A
minissérie, com previsão de estréia em outubro, é a primeira
incursão pela dramaturgia seriada do quinteto que, há seis
anos, escreve e protagoniza os
esquetes cômicos do "Hermes e
Renato", na MTV.
Se a pista em "Belíssima" era
a idade da herdeira da vilã, aqui
a chave do enigma está nos pés
do criminoso, que calçava galochas (!). "Na história, quem vai
assumir a presidência da Barro
na Louça é o yuppie Ralph Romero, que se será um grande vilão", adianta Felipe Fagundes,
26, o protagonista da outra série que a trupe prepara para
breve, "Sinhá Boça".
Nessa, o personagem-título
-já visto no "Hermes e Renato"- é um ás da cantada (ainda
que só ele pense assim) que se
vê no epicentro de um drama
folhetinesco: é preso depois de
ser acusado de roubo por um
colega da faculdade. "No fim, o
título vai fazer sentido", garante Fausto Fanti, 27.
Na hora de gravar a trama de
suspense e a saga do galanteador gauche, o grupo esbarrou
na inexperiência da MTV em
dramaturgia. "Encontramos
dificuldades para fazer minissérie numa estrutura de jornalismo, enxuta. Não temos verba
para figuração, por exemplo",
conta o empresário do grupo,
Lecuk Ishida. "Nossa estrutura
é de guerrilha: batemos córner
e cabeceamos", metaforiza Fagundes. Planejam deixar a
emissora musical, então? "Estamos contentes com a liberdade que a MTV nos dá. Em outro
lugar, seríamos tolhidos."
Maquiagem da irmã
Censura nunca combinou
com a inquietação criativa dos
membros desse grupo de Petrópolis (região serrana do
Rio). Quando a turma de adolescentes se meteu a gravar esquetes de humor em esquema
caseiro, no fim dos anos 90, a
família de Fanti apoiou. "A gente filmava na casa dele, usando
o figurino dos pais, a maquiagem da irmã e transformando a
lavanderia em bar", lembra
Adriano Silva, 26, mais conhecido do público como Joselito,
aloprado cujas proezas incluem
colocar sete chumbinhos na
corrente sangüínea da irmã.
Em 2000, o grupo decidiu
enviar à MTV um VHS estrelado pelos cafajestes Hermes e
Renato, inspirados em Jece Valadão e cia. A nostalgia da pornochanchada (sem a libidinagem, mas mantendo a carga de
palavrões) agradou à direção do
canal, que exibiu os esquetes
sob a forma de vinhetas. O público pediu mais, e o quinteto
ganhou um espaço de 15 minutos. Em 2002, o tempo de antena dobrou e o grupo trocou a cidade imperial (onde as ocupações variavam de repórter da
"Tribuna de Petrópolis" a balconista de videolocadora) por
São Paulo. No mesmo ano, a
banda-sátira de heavy metal
Massacration deu os primeiros
trinados (leia mais ao lado).
De lá para cá, a ressalva que
se fez ao quinteto foi pela aposta freqüente no palavreado
chulo e numa certa apologia da
violência. "Quem critica isso
não está preocupado com inovação, com o fato de a TV estar
estagnada", defende Marco Antônio Alves, 28.
Já Bruno Sutter, 27, credita a
opção do grupo de não se inspirar no noticiário (como faz o
Casseta) à gama de interesses
do público-alvo. "Quando você
é adolescente, não pensa em
política. Tem suas questões
próprias a resolver."
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