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GUILHERME WISNIK
Forma resistente
O crítico Rodrigo Naves
ajudou a formar parte
da melhor arte brasileira
das últimas décadas
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"NÃO HÁ como prescindir
de uma aguda noção de
forma e de experiência
se quisermos manter a pertinência
das artes."
Com essa tese, Rodrigo Naves procura se contrapor ao antiformalismo dominante na arte contemporânea e à constatação filosófica (hipercrítica ou conformista) de que o
mundo se converteu em imagens,
tornando-se um rumor distante e
incapaz de nos proporcionar qualquer experiência transformadora.
É o permanente exercício de lucidez combativa em meio à crise das
artes que anima o livro "O Vento e o
Moinho" (Companhia das Letras,
536 págs., R$ 59,50), obra que reúne
30 anos da produção deste que é reconhecidamente um dos mais importantes críticos de arte do país.
Naves integra uma geração de
pensadores que ajudou decisivamente a formar parte expressiva da
melhor arte brasileira das últimas
décadas, consolidando um debate
público de alto nível em torno dela.
Pode-se dizer mesmo que, num
meio incipiente e precário como o
das artes plásticas no Brasil até os
anos 80, essa crítica foi o "lugar" em
que os trabalhos de arte puderam de
fato acontecer. Daí a importância
das recentes coletâneas de ensaios
de Ronaldo Brito, Paulo Sérgio
Duarte e Rodrigo Naves sobre a produção contemporânea.
O livro, portanto, tem um andamento dúbio. De um lado, encontramos o admirável esforço de diálogo,
profundamente empático mas não
condescendente com as obras de artistas escolhidos por afinidade. De
outro, considerações mais gerais, de
caráter teórico, sobre a atual superficialidade da arte, conformada em
apenas tematizar a realidade a partir
de ângulos parciais (étnicos, sexuais,
políticos, antropológicos), sem que
os trabalhos ajam como forças internas ao mundo que deveriam fender.
Como se vê, trata-se de uma tarefa
crítica complexa e abrangente. Feitas as contas, seu balanço condena
as tentativas "bem intencionadas"
de se fazer uma arte engajada, turbinada pela onda multiculturalista,
preferindo apostar em vertentes artísticas que procuram criar novos
modos de espessamento da experiência através da simbolização, como é o caso de Tunga, Nuno Ramos
e Nelson Felix, na esteira das investigações abertas por Joseph Beuys.
Se para a arte moderna a superfície da obra era um campo de jogo
que, de alguma forma, replicava e
expandia o caráter agônico do mundo (disputas, revoluções), as tendências simbólicas contemporâneas
atestam mudanças significativas na
dinâmica social: o desaparecimento
do trabalho em paralelo ao crescimento da informalidade e à financeirização do capital, a onipresença
da mídia etc., reduzindo drasticamente a possibilidade de dissenso
no interior da sociedade.
Nesse mundo colonizado e sem
fraturas, diz o autor, não é de se estranhar que alguns artistas tenham
abdicado daquela visibilidade poderosa para ir buscar na interioridade
da matéria dimensões vitais ainda
não comprometidas pelo uso instrumental. Dimensões ocultas que, pela
suspensão do sentido, podem figurar outros "mundos", capazes ainda
de pressionar o existente.
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