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TEATRO
Nova versão da peça de Sade terá nudez e crueldade; diretor avisa: "quem quiser pode deixar o teatro"
"A Filosofia na Alcova" volta imoral
ANA PAULA RAGAZZI
free-lance para a Folha
Quem vai assistir a uma peça escrita pelo Marquês de Sade não
vai desavisado. Com essa idéia em
mente, o diretor Marcelo Marcus
Fonseca reestréia hoje, no teatro
Oficina em São Paulo, a peça "A
Filosofia na Alcova", escrita por
Sade em 1795.
O texto descreve a iniciação sexual de uma garota de 15 anos sob
a ótica do sadismo -termo criado em 1869 pelo sexólogo Krafft
Ebing, a partir do nome e das
idéias de Sade.
Em relação à montagem que o
diretor encenou na cidade de abril
a junho passado, as modificações
são muitas.
Na abertura do espetáculo, uma
criança de cinco anos lerá um texto em que avisa ao público: "Todos podem deixar o teatro na hora em que desejarem. As portas
permanecerão sempre abertas".
Na primeira montagem, Fonseca havia feito uma opção pelo humor -não fazia uso da nudez e
representava as posições sexuais
por meio de alegorias. Essa concepção inicial será mantida, mas
até determinado momento: "Na
última cena, no flagelo da mãe,
vamos acender todas as luzes do
teatro e toda a nudez, toda a sacanagem que não tinha rolado até
agora, vai acontecer", diz.
Ele também avisa que não se
trata de uma cena sensual: "É sadismo puro". Os sádicos buscam
a satisfação sexual por meio da
crueldade e da violência física e
moral. "Agora, se alguém, achar
que isso é sensual, por mim, tudo
bem", considera.
O diretor também quer deixar
claro que, em momento algum,
irá constranger a platéia, chamando-a para participar do espetáculo: "Se fico sabendo que em
alguma peça os atores fazem isso,
nem vou assistir".
Ele acredita que, dessa forma,
será mais fiel ao texto de Sade.
"No final da primeira temporada,
me senti um pouco covarde."
O diretor, que também atua na
peça, decidiu que irá dirigi-la ao
vivo."Meu personagem, Dolmancé, vem para orientar as experiências sexuais da menina. A
cada apresentação, farei com que
elas aconteçam de uma forma e
em uma sequência diferentes. Isso vai interferir no ritmo da encenação. Verdadeiramente, será
um espetáculo novo a cada dia."
Embrulho no estômago
A inspiração para as mudanças
surgiu com o convite do diretor
José Celso Martinez Corrêa para
encenar "A Filosofia da Alcova"
no teatro Oficina: "Esse espaço é
mágico. Assim como Sade, ele
permite todas as possibilidades".
Marcelo Fonseca diz que está
ansioso pela reação do público,
mas não preocupado. "Concordo
que Sade é cruel, chega a embrulhar o estômago", afirma. "Mas
esse texto foi escrito no século 18,
não tem nada a ver comigo. Os
programas de TV, hoje em dia,
como Ratinho e "Linha Direta",
são muito mais chocantes. E falam do nosso dia-a-dia."
Peça: A Filosofia na Alcova
Direção: Marcelo Marcus Fonseca
Com: Marcelo Marcus Fonseca, Cibele
Forjaz, Carolina Gonzales e outros
Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às
19h; seg. 9/8, última apresentação, às
21h
Onde: teatro Oficina (r. Jaceguai, 520,
tel. 0/xx/11/3106-2818)
Quanto: R$ 15
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