São Paulo, Sexta-feira, 30 de Julho de 1999
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TEATRO
Nova versão da peça de Sade terá nudez e crueldade; diretor avisa: "quem quiser pode deixar o teatro"
"A Filosofia na Alcova" volta imoral


ANA PAULA RAGAZZI
free-lance para a Folha

Quem vai assistir a uma peça escrita pelo Marquês de Sade não vai desavisado. Com essa idéia em mente, o diretor Marcelo Marcus Fonseca reestréia hoje, no teatro Oficina em São Paulo, a peça "A Filosofia na Alcova", escrita por Sade em 1795.
O texto descreve a iniciação sexual de uma garota de 15 anos sob a ótica do sadismo -termo criado em 1869 pelo sexólogo Krafft Ebing, a partir do nome e das idéias de Sade.
Em relação à montagem que o diretor encenou na cidade de abril a junho passado, as modificações são muitas.
Na abertura do espetáculo, uma criança de cinco anos lerá um texto em que avisa ao público: "Todos podem deixar o teatro na hora em que desejarem. As portas permanecerão sempre abertas".
Na primeira montagem, Fonseca havia feito uma opção pelo humor -não fazia uso da nudez e representava as posições sexuais por meio de alegorias. Essa concepção inicial será mantida, mas até determinado momento: "Na última cena, no flagelo da mãe, vamos acender todas as luzes do teatro e toda a nudez, toda a sacanagem que não tinha rolado até agora, vai acontecer", diz.
Ele também avisa que não se trata de uma cena sensual: "É sadismo puro". Os sádicos buscam a satisfação sexual por meio da crueldade e da violência física e moral. "Agora, se alguém, achar que isso é sensual, por mim, tudo bem", considera.
O diretor também quer deixar claro que, em momento algum, irá constranger a platéia, chamando-a para participar do espetáculo: "Se fico sabendo que em alguma peça os atores fazem isso, nem vou assistir".
Ele acredita que, dessa forma, será mais fiel ao texto de Sade. "No final da primeira temporada, me senti um pouco covarde."
O diretor, que também atua na peça, decidiu que irá dirigi-la ao vivo."Meu personagem, Dolmancé, vem para orientar as experiências sexuais da menina. A cada apresentação, farei com que elas aconteçam de uma forma e em uma sequência diferentes. Isso vai interferir no ritmo da encenação. Verdadeiramente, será um espetáculo novo a cada dia."

Embrulho no estômago
A inspiração para as mudanças surgiu com o convite do diretor José Celso Martinez Corrêa para encenar "A Filosofia da Alcova" no teatro Oficina: "Esse espaço é mágico. Assim como Sade, ele permite todas as possibilidades".
Marcelo Fonseca diz que está ansioso pela reação do público, mas não preocupado. "Concordo que Sade é cruel, chega a embrulhar o estômago", afirma. "Mas esse texto foi escrito no século 18, não tem nada a ver comigo. Os programas de TV, hoje em dia, como Ratinho e "Linha Direta", são muito mais chocantes. E falam do nosso dia-a-dia."


Peça: A Filosofia na Alcova
Direção: Marcelo Marcus Fonseca
Com: Marcelo Marcus Fonseca, Cibele Forjaz, Carolina Gonzales e outros
Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h; seg. 9/8, última apresentação, às 21h
Onde: teatro Oficina (r. Jaceguai, 520, tel. 0/xx/11/3106-2818)
Quanto: R$ 15


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