São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 2000


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EVENTO
Debate analisa o manifesto elaborado pelo cineasta Jeferson De em 1999
"Feijoada" quer negros no cinema

DA REPORTAGEM LOCAL

A reivindicação por maior espaço para cineastas negros no Brasil foi a tônica do debate "Dogma Feijoada - Manifesto Acerca da Imagem do Negro no Cinema Brasileiro", evento promovido pela Folha e pelo 11º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, que ocorreu no último dia 23.
Estiveram presentes no debate o cineasta Jeferson De, diretor do curta "Gênesis 22", estudante de cinema da Universidade de São Paulo e autor do manifesto "Dogma Feijoada - Gênese do Cinema Negro Brasileiro"; o rapper Xis, vencedor na categoria rap do último Video Music Brasil, evento da MTV que premia os melhores videoclipes do ano; e o escritor Ferréz, que lançou seu primeiro livro, "Capão Pecado", sobre a periferia de São Paulo, neste ano. A mediação foi feita pelo jornalista Sérgio Rizzo, crítico de cinema e colaborador da Folha.
Jeferson De abriu o debate expondo os pontos que norteiam seu manifesto. Segundo De, um filme do "Dogma Feijoada" deve ser dirigido por um negro brasileiro; o protagonista tem de ser negro; a temática tem de estar relacionada à cultura negra brasileira; o cronograma deve ser executável; personagens estereotipados, negros ou não, estão proibidos; super-heróis ou bandidos deverão ser evitados, e o roteiro deverá privilegiar o negro comum brasileiro, ou seja, nada de sambistas e jogadores de futebol.
"É preciso evitar personagens negros estereotipados", disse o cineasta. "No período da chanchada havia Grande Otelo, que só interpretava preto burro assexuado. Na minha infância, meu ídolo era o Mussum, que fazia um negro bêbado que falava errado, isso é um absurdo. Em "Orfeu", não me identifiquei quando vi aquele sambista compondo num laptop. Tem algumas coisas que me incomodam no filme, como, por exemplo, a bunda do Toni Garrido", disse, tirando risos da platéia.
De ainda comparou a indústria de filmes de cineastas negros brasileira à dos EUA, citando o diretor Spike Lee. "Quando o Spike Lee precisou de dinheiro para fazer o "Malcolm X", ele ligou para o Michael Jordan... Se eu ligar para o Vampeta pedindo dinheiro para complementar o meu curta, eu duvido que ele vá dar algum."
Xis e Ferréz complementaram o debate falando sobre suas áreas de atuação, a música e a literatura, produzidos de maneira independente, que estão conquistando seu espaço aos poucos.



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