São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 2000


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Autran Dourado vence Prêmio Camões de literatura

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O escritor mineiro Autran Dourado, 74, é o vencedor da edição deste ano do Prêmio Camões, o mais importante em literatura da língua portuguesa. O anúncio foi feito ontem, às 18h30, na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, pela professora Maria Alzira Seixo, da Universidade de Lisboa.
Criado em 1989, o prêmio, no valor de US$ 100 mil, é distribuído anualmente a escritores de países de língua portuguesa. O júri é formado por três intelectuais indicados pelo Ministério da Cultura do Brasil e por três escolhidos pelo Instituto Camões, de Portugal. Cada país paga metade do valor.
Dourado é o quinto brasileiro a receber a distinção. Antes dele, venceram João Cabral de Melo Neto, em 90, Rachel de Queiroz, em 93, Jorge Amado, em 94, e Antonio Candido, em 98. No ano passado, a premiada foi a portuguesa Sophia de Mello Breyner.
"Fui pego de surpresa", disse à Folha Autran Dourado, por telefone, de seu apartamento em Botafogo, no Rio de Janeiro.
Nascido em Patos (MG), ele mora na capital carioca desde 1954, para onde foi junto com o presidente Juscelino Kubitschek, de quem foi secretário de imprensa (leia texto ao lado).
"Estou extremamente envaidecido. É o prêmio mais importante que eu poderia ganhar. Isso sem contar a quantia", declarou. "Para mim é ainda mais significativo, pois toda minha formação é de clássicos portugueses."
A notícia foi recebida com euforia pela crítica brasileira.
"Dourado merece plenamente esta distinção. Ele é um dos nossos melhores ficcionistas e, além disso, um escritor que sempre se preocupou com os aspectos teóricos da literatura. Nesse sentido, pode ser considerado um romancista dotado de grande espírito crítico", disse Antonio Candido, professor emérito da USP.
O escritor e ensaísta Silviano Santiago, que fez parte do júri que deu o prêmio a Dourado, salientou a constância da grandeza do autor. "Sua obra, meticulosamente arquitetada e elaborada, nunca perde a alta qualidade e sempre propõe novos temas e traz aperfeiçoamentos para a técnica romanesca." A consistência do escritor também foi lembrada pelo poeta e crítico Ferreira Gullar: "Sua obra tem muito peso na nossa literatura".
Para o crítico Fábio Lucas, o prêmio "coroa 50 anos de trabalho". "Desde sua primeira obra, "Teia", de 1947, ele construiu uma constelação de mitos a partir de uma cidade imaginária, onde se instalavam vertentes da cultura brasileira e da cultura mineira, principalmente", disse Lucas.
O aspecto artesanal da obra do autor de "O Risco do Bordado", considerado seu livro mais importante, ao lado de "Ópera dos Mortos", foi lembrado pelo escritor e jornalista Carlos Heitor Cony. "Ele é um artesão na linha do romance intimista."
Essa discrição da literatura de Dourado está prestes a ser devassada entre os frequentadores das salas de cinemas. Suzana Amaral, diretora de "A Hora da Estrela", está filmando em Goiás uma adaptação da romance "Uma Vida em Segredo", que o escritor publicou em 1964.


Colaboraram Demetrius Caesar e Marcella Franco, free-lance para a Folha, e a Sucursal do Rio


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