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Autran Dourado vence Prêmio Camões de literatura
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O escritor mineiro Autran Dourado, 74, é o vencedor da edição
deste ano do Prêmio Camões, o
mais importante em literatura da
língua portuguesa. O anúncio foi
feito ontem, às 18h30, na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro,
pela professora Maria Alzira Seixo, da Universidade de Lisboa.
Criado em 1989, o prêmio, no
valor de US$ 100 mil, é distribuído
anualmente a escritores de países
de língua portuguesa. O júri é formado por três intelectuais indicados pelo Ministério da Cultura do
Brasil e por três escolhidos pelo
Instituto Camões, de Portugal.
Cada país paga metade do valor.
Dourado é o quinto brasileiro a
receber a distinção. Antes dele,
venceram João Cabral de Melo
Neto, em 90, Rachel de Queiroz,
em 93, Jorge Amado, em 94, e Antonio Candido, em 98. No ano
passado, a premiada foi a portuguesa Sophia de Mello Breyner.
"Fui pego de surpresa", disse à
Folha Autran Dourado, por telefone, de seu apartamento em Botafogo, no Rio de Janeiro.
Nascido em Patos (MG), ele
mora na capital carioca desde
1954, para onde foi junto com o
presidente Juscelino Kubitschek,
de quem foi secretário de imprensa (leia texto ao lado).
"Estou extremamente envaidecido. É o prêmio mais importante
que eu poderia ganhar. Isso sem
contar a quantia", declarou. "Para
mim é ainda mais significativo,
pois toda minha formação é de
clássicos portugueses."
A notícia foi recebida com euforia pela crítica brasileira.
"Dourado merece plenamente
esta distinção. Ele é um dos nossos melhores ficcionistas e, além
disso, um escritor que sempre se
preocupou com os aspectos teóricos da literatura. Nesse sentido,
pode ser considerado um romancista dotado de grande espírito
crítico", disse Antonio Candido,
professor emérito da USP.
O escritor e ensaísta Silviano
Santiago, que fez parte do júri que
deu o prêmio a Dourado, salientou a constância da grandeza do
autor. "Sua obra, meticulosamente arquitetada e elaborada, nunca
perde a alta qualidade e sempre
propõe novos temas e traz aperfeiçoamentos para a técnica romanesca." A consistência do escritor também foi lembrada pelo
poeta e crítico Ferreira Gullar:
"Sua obra tem muito peso na nossa literatura".
Para o crítico Fábio Lucas, o
prêmio "coroa 50 anos de trabalho". "Desde sua primeira obra,
"Teia", de 1947, ele construiu uma
constelação de mitos a partir de
uma cidade imaginária, onde se
instalavam vertentes da cultura
brasileira e da cultura mineira,
principalmente", disse Lucas.
O aspecto artesanal da obra do
autor de "O Risco do Bordado",
considerado seu livro mais importante, ao lado de "Ópera dos
Mortos", foi lembrado pelo escritor e jornalista Carlos Heitor
Cony. "Ele é um artesão na linha
do romance intimista."
Essa discrição da literatura de
Dourado está prestes a ser devassada entre os frequentadores das
salas de cinemas. Suzana Amaral,
diretora de "A Hora da Estrela",
está filmando em Goiás uma
adaptação da romance "Uma Vida em Segredo", que o escritor
publicou em 1964.
Colaboraram Demetrius Caesar e Marcella Franco, free-lance para a Folha, e a
Sucursal do Rio
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