São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 2006

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Bob Dylan recria seus "tempos modernos"

Compositor lança seu 32º disco de estúdio e encerra trilogia iniciada em 97

Sonoridade de novo CD do compositor norte-americano oscila entre o country e o rhythm'n'blues e revisita legado do século 20


Notimex
Com o disco, Bob Dylan encerra trilogia de obras-primas


ALEXANDRE MATIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os "tempos modernos" fazem parte do passado. Depois de cinco anos sem lançar um disco de inéditas -o último, "Love & Theft", chegou às lojas no mesmo dia em que as torres gêmeas caíram-, Bob Dylan volta às prateleiras com "Modern Times", lançado nesta semana nos EUA e que chega ao Brasil em setembro.
O disco é o item de número 50 em sua discografia, entre discos ao vivo, coletâneas e reedições, e é o terceiro capítulo de uma trilogia de obras-primas inaugurada com "Time Out of Mind" (97).
O hiato entre os dois lançamentos não passou em branco para o cantor e compositor norte-americano. Neste meio tempo, Dylan foi assunto de um documentário de Martin Scorsese ("No Direction Home") e escreveu o primeiro livro de sua autobiografia ("Crônicas Volume 1"), além de virar disc-jóquei na rádio via satélite XFM e oficializar lançamentos piratas em sua "Bootleg Series".
Em "Modern Times", o cantor e compositor nos lembra que nem sempre houve cidades, carros, asfalto, publicidade, poluição, fábricas, multidões engarrafadas em rotinas vazias de sentido, crises e neuroses coletivas.
"Tempos Modernos", resume Dylan, 65, que batizou seu 32º disco de estúdio com o mesmo título do clássico filme de Charles Chaplin, lançado em 1936, cinco anos antes do próprio compositor nascer. Dylan se equivale ao cineasta na tentativa de resumir seu século de criação a partir de seu principal legado, a modernidade.

Retorno ao século 20
É ela quem rearruma o mundo a partir das mudanças técnicas, culturais, políticas e demográficas criadas pela era industrial. Como se pudesse voltar no tempo, Dylan busca recriar a música contemporânea do meio do século 20 como se fosse possível prever que, graças aos Beatles, aquela seria a trilha sonora do século.
Não é exatamente rock'n'roll, pois na contemporaneidade de "Modern Times", o rock ainda não existe. Há apenas uma variedade de ritmos musicais, uns vindo da música country, outros do rhythm'n'blues, que fingem não se freqüentarem ou se parecerem, mas que, como veríamos mais tarde com os Beatles, e como Dylan nos apresenta em seu novo disco, são tudo farinha do mesmo saco.

Modernidade
Toda discografia de Dylan parece ser uma grande tentativa de driblar o tempo, e de, simultaneamente, usar as próprias referências como molde para qualquer detalhe de seu futuro. Assim, começou calcado em Woody Guthrie, abraçou o rock, voltou-se para o country e daí para o gospel, o pop, o folk, o rhythm'n'blues etc.
Mas, durante os anos 90, essa sua tentativa de contar o presente a partir de seu passado pessoal esbarrou em alguns discos belos mas mal resolvidos, como dois de versões de clássicos do início do século ("Good As I Been To You" e "World Gone Wrong") e seu "MTV Unplugged".
Irregulares, eles pareciam indicar a velhice precoce de um geninho que dava a impressão de que nunca iria envelhecer. Até que Dylan decidiu parar de regravar e voltou a compor, em 1997, dando início a este arco de três discos (ele aparentemente encerra-se com "Modern Times"), em que volta a redesenhar seu século a partir de sua qualidade essencial.
Para Dylan, modernidade não são publicitários baixando músicas do MySpace para remixar em comerciais de energéticos. "Modernos" foram inventos como o rádio, o arranha-céu, o chiclete, o cinema, o disco, o carro, o rock'n'roll, os EUA ou o táxi, "um yellow cab de época", que rasga a capa de "Modern Times".
Hoje, o mundo supera cada um destes aspectos, reinventando o século 21, até certo ponto, como negação do anterior. Para estes novos tempos, pede Dylan, arrume outro adjetivo, porque o "moderno" é seu.

MODERN TIMES     

Artista: Bob Dylan
Lançamento: Sony (previsto para setembro)
Quanto: a definir


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