|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Rio vê "babilaques" de Waly Salomão
Corruptela de badulaques, palavra é usada para anotações "poético-visuais" do artista
Exposição mostra fotos de páginas dos cadernos de Salomão, além de DVDs gravados por filhos dele e de filme feito com José Simão
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
"Onde estão os babilaques?",
ouviu Waly Salomão (1943-2003) de policiais no Carandiru, onde ficou preso por porte
de maconha. A palavra, corruptela de "badulaques" significando documentos ou outras
coisas que a pessoa esteja guardando, foi registrada pelo poeta
em "Me Segura que'eu Vou Dar
um Troço" (1972), livro que escreveu após sair da cadeia, e batizou "performances poético-visuais" realizadas de 1975 a 77
em Nova York, Rio e Salvador.
Até hoje muito pouco conhecidas, as séries serão exibidas a
partir de sábado, no Oi Futuro,
no Rio, na mostra "Waly Salomão: Babilaques, Alguns Cristais Clivados", título que o próprio artista queria dar ao conjunto desses trabalhos.
Cada babilaque é uma foto de
uma página de um dos muitos
cadernos de espiral preenchidos por Salomão. Na maior parte das folhas, ele escrevia palavras, poemas e textos em prosa,
sempre com inventividade visual. Eram trocadilhos, letras
transformadas em signos, emulações da poesia concreta, além
de construções puramente visuais, sem uma palavra sequer.
"Ele não chamava de poemas
visuais, e eu concordo. Os chamados poemas visuais contêm
palavras, mas nem sempre têm
poesia", diz o curador Luciano
Figueiredo, amigo de Salomão
que dividiu com ele experiências plásticas nos anos 70.
Embora nunca tenha sido
chamado de artista plástico, Salomão tinha uma formação
muito consistente nesse campo. Entre os babilaques, há
duas referências ao holandês
Piet Mondrian (1872-1944):
"Mondrian Barato" e "Under
the Bare Tree", esta um jogo de
linhas e cores feito só com papel e canetas.
"Os babilaques são uma operação muito lúdica e lírica do
Waly. A produção dele entre 71
e 73 era muito trágica. Nesse
outro momento, ele brinca com
canetas, cadernos, frases do cotidiano", diz Figueiredo.
Um exemplo é "Mar - E As
Sereias Desaparecendo por
Falta de Estímulo", em que recortou uma curva do símbolo
da Coca-Cola -que fica parecendo um peixe- e a sílaba
"mar" de "marca registrada".
Mas há um babilaque trágico:
"Torpedo Suicida", homenagem ao poeta Torquato Neto
(1944-1972), grande amigo.
"Os trabalhos de Waly se dão,
como ele dizia, "na esfera da
produção de si mesmos". É a absolutização da subjetividade
numa época em que ainda era
complicado afirmar algo que
não estivesse atrelado às esquerdas culturais", diz Figueiredo, lembrando que os babilaques tiveram pouca recepção
na época das hegemonias da literatura e das artes plásticas.
A exposição terá 90 fotografias das 21 séries, além de dois
DVDs preparados pelos filhos
de Waly (Omar e Khalid) -com
imagens do pai e dos cadernos- e do super-8 "Alfa Alfavela Ville", feito por ele e José Simão, hoje colunista da Folha.
WALY SALOMÃO: BABILAQUES, ALGUNS CRISTAIS CLIVADOS
Quando: de sábado (1/9) a 14/10; ter.
a dom., de 11h às 20h
Onde: Oi Futuro (r. Dois de Dezembro,
63, Flamengo, 0/ xx/21/3131-3060)
Quanto: grátis
Texto Anterior: Teatro: Argonautas estréiam em SP o experimento "Terra sem Lei" Próximo Texto: Raio-X Índice
|