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Cíntia Abravanel vira a rainha dos baixinhos
Com fama de "brava", filha de Silvio Santos produz o oitavo espetáculo infantil
Para montar "Pinóquio", juntou-se à Cia Plat du Jour, que faz peças autorais; aos 46 anos, tenta deixar de ser apenas a "filha do patrão"
ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um quadro com o rosto de
Silvio Santos parece vigiar, com
um meio sorriso, o que Cíntia
Abravanel diz. "É muita cobrança ser filha desse homem",
admite, com seu jeito despachado e sincero, a diretora do
Centro Cultural Grupo Silvio
Santos, responsável pelo Teatro Imprensa. Cíntia estreou,
na semana passada, "Pinóquio". Para encenar a obra de
Carlo Goldoni, convidou a Cia.
Plat du Jour, conhecida pela capacidade de recriar, sem simplificações, grandes clássicos.
Como acontece com todas as
peças montadas por Cíntia, "Pinóquio" inclui um projeto educativo, feito em parceria com as
secretarias municipal e estadual de educação. "É importante falar do lado educativo porque, como o teatro pertence ao
grupo, algumas pessoas ainda
têm uma imagem errada do
nosso trabalho", diz. O "grupo",
termo recorrente na fala de
Cíntia, é o Grupo Silvio Santos,
"que reúne 30 empresas, uns 10
mil empregados" e que, durante muito tempo, olhou com
desconfiança para seus passos.
"Os diretores do Baú, da Tele
Sena e do SBT são meus patrões", diz. "Não foi simples explicar que, no teatro, o lucro é o
que a criança leva para casa,
não bilheteria." Já fora do "grupo", ouve uma piadinha recorrente quando pede patrocínio:
"E seu pai, não ajuda?".
Curioso destino o seu. O desinteresse pelos negócios, que
pontuou sua vida até os 30
anos, acabou por colocá-la na
contramão. "Tento ensinar à
empresa que é preciso compartilhar, que existe outra forma
de ver as coisas", diz, revelando
a porção estranha no ninho.
Ela conta que, desde pequenina, seu sonho resumia-se a
ser mãe. Aos 21 anos, estava casada. Aos 26, tinha três filhos.
Aos 30, se separou. Resolveu
então dar meia volta e espiar o
que tinha descartado. Fez uma
espécie de estágio para conhecer as empresas do pai e, nesse
momento, descobriu que ele tinha um teatro. Pouco tempo
depois, tornou-se diretora do
Teatro Imprensa.
Chegou às cegas, sem saber
nada de palco ou textos. Mas
carregou no bolso um conselho
do pai. "Ou você berra ou ninguém vai te levar a sério." Cíntia parece mesmo ser das que
berram, mas sem perder a ternura. O estilo "mãezona" evidencia-se na maneira como fala
das crianças e dos funcionários
do teatro. "Tenho fama de brava", brinca. "Quando cheguei,
tive que mostrar que não era só
a filha do patrão."
Sua primeira ideia, depois de
assumir o espaço, até então alugado por terceiros, foi fazer
uma peça adulta. Deu tudo errado. Imaginou que teatro infantil seria mais fácil. Começou
em 1998, com "No Reino das
Águas Claras", adaptação de
Monteiro Lobato. Surgiu nessa
peça o pó de pirlimpimpim que
a fez transformar o teatro em
projeto educativo e social: a
carta de uma menina de um colégio de Franco da Rocha. "Ela
dizia que queria ser bailarina e
trabalhar comigo quando crescesse. Mexeu muito comigo."
Mas, se no teatro infantil
Cíntia conquistou o respeito
dos pares, com peças como "O
Gato Malhado e a Andorinha
Sinhá", adaptação de Vladimir
Capella, e "O Poeta das Andorinhas", baseado em Oscar Wilde, o mesmo não se pode dizer
do teatro adulto. A briga do pai
com Zé Celso Martinez Corrêa
faz, até hoje, com que muitos
artistas se recusem a pisar no
palco administrado por Cíntia.
Este ano, ela criou o projeto
"Vitrine Cultural", que abriu o
espaço para grupos autorais e,
finalmente, começou a ver, ali,
críticos e artistas. "Estão descobrindo que meu trabalho não
é vender carnê do Baú."
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