São Paulo, domingo, 30 de agosto de 2009

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Cíntia Abravanel vira a rainha dos baixinhos

Com fama de "brava", filha de Silvio Santos produz o oitavo espetáculo infantil

Para montar "Pinóquio", juntou-se à Cia Plat du Jour, que faz peças autorais; aos 46 anos, tenta deixar de ser apenas a "filha do patrão"

ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um quadro com o rosto de Silvio Santos parece vigiar, com um meio sorriso, o que Cíntia Abravanel diz. "É muita cobrança ser filha desse homem", admite, com seu jeito despachado e sincero, a diretora do Centro Cultural Grupo Silvio Santos, responsável pelo Teatro Imprensa. Cíntia estreou, na semana passada, "Pinóquio". Para encenar a obra de Carlo Goldoni, convidou a Cia.
Plat du Jour, conhecida pela capacidade de recriar, sem simplificações, grandes clássicos.
Como acontece com todas as peças montadas por Cíntia, "Pinóquio" inclui um projeto educativo, feito em parceria com as secretarias municipal e estadual de educação. "É importante falar do lado educativo porque, como o teatro pertence ao grupo, algumas pessoas ainda têm uma imagem errada do nosso trabalho", diz. O "grupo", termo recorrente na fala de Cíntia, é o Grupo Silvio Santos, "que reúne 30 empresas, uns 10 mil empregados" e que, durante muito tempo, olhou com desconfiança para seus passos.
"Os diretores do Baú, da Tele Sena e do SBT são meus patrões", diz. "Não foi simples explicar que, no teatro, o lucro é o que a criança leva para casa, não bilheteria." Já fora do "grupo", ouve uma piadinha recorrente quando pede patrocínio: "E seu pai, não ajuda?".
Curioso destino o seu. O desinteresse pelos negócios, que pontuou sua vida até os 30 anos, acabou por colocá-la na contramão. "Tento ensinar à empresa que é preciso compartilhar, que existe outra forma de ver as coisas", diz, revelando a porção estranha no ninho.
Ela conta que, desde pequenina, seu sonho resumia-se a ser mãe. Aos 21 anos, estava casada. Aos 26, tinha três filhos. Aos 30, se separou. Resolveu então dar meia volta e espiar o que tinha descartado. Fez uma espécie de estágio para conhecer as empresas do pai e, nesse momento, descobriu que ele tinha um teatro. Pouco tempo depois, tornou-se diretora do Teatro Imprensa.
Chegou às cegas, sem saber nada de palco ou textos. Mas carregou no bolso um conselho do pai. "Ou você berra ou ninguém vai te levar a sério." Cíntia parece mesmo ser das que berram, mas sem perder a ternura. O estilo "mãezona" evidencia-se na maneira como fala das crianças e dos funcionários do teatro. "Tenho fama de brava", brinca. "Quando cheguei, tive que mostrar que não era só a filha do patrão."
Sua primeira ideia, depois de assumir o espaço, até então alugado por terceiros, foi fazer uma peça adulta. Deu tudo errado. Imaginou que teatro infantil seria mais fácil. Começou em 1998, com "No Reino das Águas Claras", adaptação de Monteiro Lobato. Surgiu nessa peça o pó de pirlimpimpim que a fez transformar o teatro em projeto educativo e social: a carta de uma menina de um colégio de Franco da Rocha. "Ela dizia que queria ser bailarina e trabalhar comigo quando crescesse. Mexeu muito comigo."
Mas, se no teatro infantil Cíntia conquistou o respeito dos pares, com peças como "O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá", adaptação de Vladimir Capella, e "O Poeta das Andorinhas", baseado em Oscar Wilde, o mesmo não se pode dizer do teatro adulto. A briga do pai com Zé Celso Martinez Corrêa faz, até hoje, com que muitos artistas se recusem a pisar no palco administrado por Cíntia. Este ano, ela criou o projeto "Vitrine Cultural", que abriu o espaço para grupos autorais e, finalmente, começou a ver, ali, críticos e artistas. "Estão descobrindo que meu trabalho não é vender carnê do Baú."


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