da Reportagem Local

Há mais diferenças entre o cinema americano e o argentino do que pode imaginar nossa vã filosofia. É só comparar o esquizofrênico "Inimigo do Estado" com o angustiado "Cinzas do Paraíso".
O diretor argentino Marcelo Piñeyro ("Tango Feroz") teve o talento de transformar a investigação do assassinato da jovem Ana (a sensual Leticia Brédice), que acontece no mesmo dia do suposto suicídio do juiz grego Makantasis (Héctor Alterio), num instingante jogo de poder e sedução.
A juíza Beatriz Teller (Cecilia Roth) tem de se decidir entre os irmãos Alejandro (Nicolás Abeles), namorado de Ana, Nicolás (Daniel Kuzniecka) e Pablo (Leonardo Sbaragia), filhos do juiz, que confessam o crime.
Piñeyro constrói uma trama sofisticada, narrada no presente (da investigação) e no passado (blocos descrevendo os irmãos e a garota), um desafio ao espectador. A ligação entre o suicídio e o assassinato é corrosiva, a brasa que desmistifica o paraíso, já perdido.
Não se pode dizer o mesmo de "Inimigo do Estado", mais um malabarismo formal de Tony Scott ("Ases Indomáveis"). Para encenar a invasão de privacidade de um advogado yuppie (o rapper Will Smith, de "Homens de Preto"), Scott não hesita em encenar uma perseguição via satélite pelas ruas, ousadia tecnológica acompanhada de ostensivo merchandising de aparelhos eletrônicos.
Ao advogado, vítima inocente de uma conspiração do serviço secreto americano pelo controle das telecomunicações, só resta pedir ajuda a um ex-agente (Gene Hackman), o único capaz de furar o aparato para "apagar a testemunha" indesejável. A paranóia reveste o planeta, mania de grandeza dos americanos, que querem exportar até seus medos. (FG)


Filme: Cinzas do Paraíso
Gênero: policial
Produção: Argentina, 1997, 116 min.
Direção: Marcelo Piñeyro

Avaliação:   

Filme: Inimigo do Estado
Gênero: suspense
Produção: EUA, 1998, 131 min.
Direção: Tony Scott

Avaliação:   


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