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CINEMA
"Goya", de Saura, encerra hoje Festival do Rio
CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio
Autor de filmes politicamente
engajados -caso de "Los Ojos
Vendados" (1978)-, o cineasta
espanhol Carlos Saura, 67, define
"Tango" (1998), que será exibido
hoje no último dia do Festival do
Rio 99, como "um pouco autobiográfico", mas muito político.
Autobiografia e política se
unem quando o diretor usa o tango para criar uma coreografia
com referências claras à tortura e
ao desaparecimento de pessoas
durante a ditadura argentina.
A associação da música com a
tortura tem raízes na infância e juventude do diretor.
"Eu ouvia muitos tangos quando era criança, ao lado de meu
pai. Depois, o tango passou a ser,
para mim, a música usada para
abafar os gritos nas sessões de tortura nos porões franquistas."
Saura está no Rio para a exibição de "Tango" e de "Goya", seu
mais recente trabalho.
Para ele, a memória de anos de
ditaduras, torturas e desaparecimento de pessoas ainda está muito presente nos países da América
Latina, o que faz com que sua estabilidade democrática seja tênue
e que sua população tenha receio
de falar sobre o assunto.
Saura parte de um fato concreto: as ameaças sofridas, na Argentina, por pessoas que atuaram nas
filmagens de "Tango".
Para o cineasta, a citação das
torturas da ditadura argentina e
sua associação com o gênero musical pode ter irritado alguns setores da sociedade do país.
"Na Argentina, no Chile e em
outros países latino-americanos,
a situação ainda é muito delicada.
Há a democracia, mas também há
muitas histórias ainda não contadas e muitos setores que não querem que essas histórias sejam
contadas", diz o diretor.
Em "Tango", Saura narra a história de um diretor teatral em crise após ser abandonado pela mulher. Ele está preparando um espetáculo sobre o gênero musical
argentino e apaixona-se por uma
de suas atrizes, namorada do produtor do espetáculo.
Em "Goya", biografia em ritmo
teatral do pintor espanhol Francisco Goya (1746-1828), Saura
conta que fez "um caminho novo". O filme será exibido hoje à
noite no cinema Odeon (centro
do Rio), na sessão de encerramento do Festival do Rio 99.
Nele, Saura conta que ampliou
as experiências visuais de "Tango", feitas em parceria com o diretor de fotografia Vittorio Storaro. "Criamos grandes superfícies
em plástico, como telas gigantescas que são usadas como paredes
falsas e podem ser iluminadas pelos dois lados", diz.
O diretor vinha tentando fazer
"Goya" há dez anos. "Os produtores só querem filmes que vendam,
façam sucesso de bilheteria, e não
acreditavam que "Goya" seria capaz disso." O sucesso de "Tango"
no mercado internacional impulsionou "Goya". "Descobriram
que eu consigo fazer filmes que
dão dinheiro", ironiza Saura.
No Rio, ele aproveita para iniciar pesquisas para o projeto de
um musical, voltado para a dança
-como "Bodas de Sangue",
"Carmen" e "Tango"-, mas inspirado na música brasileira.
O diretor explica que se interessa pela fusão de vários elementos
na cultura brasileira. "Há poucas
culturas musicais que se atualizam e estão vivas. No Brasil há
uma mescla de culturas que cria
algo novo, com passado, presente
e um futuro possível."
Filme: Tango
Onde: Estação Icaraí (r. Coronel Moreira Cesar, 211, Icaraí, Niterói); às 16h30
Filme: Goya
Onde: cine Odeon (pça. Marechal Floriano, centro); às 20h
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