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LITERATURA
Historiador decifra plantas amorosas e alucinógenas
GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Estupendo o livro do historiador Henrique Carneiro sobre a botânica e a farmácia a partir das plantas, distinguindo os vegetais afrodisíacos, alucinógenos e
anafrodisíacos, desde a antiguidade e particularmente do século 16
em diante, com a descoberta do
Novo Mundo.
A flora dos trópicos. As florestas
úmidas. As plantas que incitam o
amor: alcachofra, banana, abacate, amendoim, hortelã, canela,
gengibre. As plantas excitantes,
tal qual um bom placebo, isto é, "a
eficácia das substâncias inócuas".
As plantas que esfriam o desejo:
cânfora, café, tabaco, sementes de
alface, de melancia e de cabaça.
Aquilo que a medicina, do século
18 em diante, denomina "remédios para a doença do amor". Erotomania. Nos homens o priapismo; nas mulheres a ninfomania.
Não há cultura sem presença de
alucinógeno. A planta faz a bruxa.
Planta enlouquecedora. Existem
150 plantas alucinógenas. Peiote.
Ayahuasca. Beladona. Cogumelo.
Alucinar significa divagar. O
LSD se originou do centeio. O
mestre do êxtase é o mago, médico, sacerdote. O cristianismo elegeu o vinho como a droga sagrada
por excelência. No Novo Mundo
vingou a repressão colonialista à
experiência visionária. O colonizador empenhado em erradicar a
"ciência do alucinógeno".
Cannabis sativa, diamba, maconha. Seu padrinho literário é o
médico François Rabelais, o Glauber Rocha do século 16. O percurso da maconha no Brasil, elogiada
por Gilberto Freyre: "Planta mística", complexo africano da diamba. Vingança dos escravos.
Anti-hedonistas, os jesuítas na
América do Sul, ciosos do autocontrole, não deram trégua no
combate às plantas que produziam visões, idolatria e prazer.
Escreve Henrique Carneiro: "A
permanência de um medo desproporcional dos alucinógenos
no mesmo tempo em que a embriaguez alcoólica não provoca
nenhum temor excepcional".
O paraíso é vegetal ou não é paraíso. Atualmente saber as virtudes das plantas se tornou uma
fonte de indignação ética e política. Depois da "lei das patentes", o
Brasil perdeu a propriedade do
solo. É a alienação herbanária. A
emancipação popular e nacional
se confundirá com a emancipação
farmacológica. Por isso, continua
sendo, vá lá a palavra, revolucionária a ontologia dos trópicos, ou
seja, a ciência do ser tropical.
Gilberto Felisberto Vasconcellos é
professor de ciências sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG)
Amores e Sonhos da Flora
Autor: Henrique Carneiro
Editora: Xamã
Quanto: R$ 24 (239 págs.)
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