São Paulo, segunda-feira, 30 de setembro de 2002

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LITERATURA

Historiador decifra plantas amorosas e alucinógenas

GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Estupendo o livro do historiador Henrique Carneiro sobre a botânica e a farmácia a partir das plantas, distinguindo os vegetais afrodisíacos, alucinógenos e anafrodisíacos, desde a antiguidade e particularmente do século 16 em diante, com a descoberta do Novo Mundo.
A flora dos trópicos. As florestas úmidas. As plantas que incitam o amor: alcachofra, banana, abacate, amendoim, hortelã, canela, gengibre. As plantas excitantes, tal qual um bom placebo, isto é, "a eficácia das substâncias inócuas".
As plantas que esfriam o desejo: cânfora, café, tabaco, sementes de alface, de melancia e de cabaça. Aquilo que a medicina, do século 18 em diante, denomina "remédios para a doença do amor". Erotomania. Nos homens o priapismo; nas mulheres a ninfomania.
Não há cultura sem presença de alucinógeno. A planta faz a bruxa. Planta enlouquecedora. Existem 150 plantas alucinógenas. Peiote. Ayahuasca. Beladona. Cogumelo.
Alucinar significa divagar. O LSD se originou do centeio. O mestre do êxtase é o mago, médico, sacerdote. O cristianismo elegeu o vinho como a droga sagrada por excelência. No Novo Mundo vingou a repressão colonialista à experiência visionária. O colonizador empenhado em erradicar a "ciência do alucinógeno".
Cannabis sativa, diamba, maconha. Seu padrinho literário é o médico François Rabelais, o Glauber Rocha do século 16. O percurso da maconha no Brasil, elogiada por Gilberto Freyre: "Planta mística", complexo africano da diamba. Vingança dos escravos.
Anti-hedonistas, os jesuítas na América do Sul, ciosos do autocontrole, não deram trégua no combate às plantas que produziam visões, idolatria e prazer.
Escreve Henrique Carneiro: "A permanência de um medo desproporcional dos alucinógenos no mesmo tempo em que a embriaguez alcoólica não provoca nenhum temor excepcional".
O paraíso é vegetal ou não é paraíso. Atualmente saber as virtudes das plantas se tornou uma fonte de indignação ética e política. Depois da "lei das patentes", o Brasil perdeu a propriedade do solo. É a alienação herbanária. A emancipação popular e nacional se confundirá com a emancipação farmacológica. Por isso, continua sendo, vá lá a palavra, revolucionária a ontologia dos trópicos, ou seja, a ciência do ser tropical.

Gilberto Felisberto Vasconcellos é professor de ciências sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG)



Amores e Sonhos da Flora     
Autor: Henrique Carneiro
Editora: Xamã
Quanto: R$ 24 (239 págs.)




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