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CINEMA/"VLADO"
João Batista de Andrade, amigo pessoal do jornalista, investiga o assassinato pela ditadura militar
Documentário revisita o martírio de Herzog
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
"Vlado - 30 Anos Depois",
sobre a vida e a morte do
jornalista Vladimir Herzog (1937-1975), é um filme que precisava
ser feito, e João Batista de Andrade (diretor, entre outros, de "Doramundo" e "O Homem que Virou Suco") era o homem certo para fazê-lo.
Amigo pessoal, companheiro
político e colega de trabalho de
Herzog, Batista talvez tenha demorado tanto tempo para dar cabo da tarefa justamente por estar
demasiado envolvido com o tema. Trinta anos depois, consegue,
se não distanciamento, pelo menos certa serenidade -não isenta
de afeto e indignação- para encarar os fatos.
Como todo mundo sabe, Vladimir Herzog, que trabalhava então
na TV Cultura, foi preso, torturado e morto nas dependências do
DOI-Codi, o mais temido órgão
da repressão política, em outubro
de 1975. Sua morte -que o 2º
Exército tentou canhestramente
apresentar como suicídio- chocou a nação, acentuou as fissuras
internas do regime militar e impulsionou o movimento pela democratização do país.
Como todo mundo sabe, eu escrevi? Não é bem assim. Logo no
início do documentário, João Batista de Andrade entrevista transeuntes na praça da Sé, perguntando-lhes o que sabem sobre
Herzog. A maioria não sabe nada.
Um homem de seus 50 anos diz,
absurdamente, que a ditadura
não é do seu tempo, mas que, na
sua opinião, "deveria voltar".
Essa frase, registrada de passagem no burburinho da metrópole, seria suficiente para justificar a
realização de "Vlado".
Depois desse prólogo mais
"pessoal", o documentário segue
uma estrutura bastante convencional: letreiros e narração em
"off" costuram uma colagem de
depoimentos de ex-companheiros do retratado, entremeados de
poucas imagens de arquivo.
As mais contundentes são do
culto ecumênico celebrado em
1975 na Sé, pelo arcebispo dom
Paulo Evaristo Arns e pelo rabino
Henry Sobel, entre outros líderes
religiosos.
O painel assim formado reconstitui de modo bastante vivo tanto
o drama pessoal de Herzog como
o tenso contexto político da época. No entanto, algumas lacunas
persistem, talvez pelo pudor do
cineasta em escavar fundo em
certas feridas.
Exemplo: não fica clara a verdadeira relação de Herzog com o
Partido Comunista Brasileiro
(PCB). Os depoimentos de alguns
entrevistados (como Paulo Markun e Rodolfo Konder), presos no
mesmo DOI-Codi, sugerem que
ele era militante do "Partidão",
devastado na época pelos órgãos
de repressão, apesar de não adotar a luta armada. Mas a viúva
Clarice Herzog dá a entender que
não. Ser ou não do partido não
muda em nada a barbárie do assassinato, mas o espectador tem
direito à informação inteira.
Uma vereda que poderia ser
mais bem explorada é a investigação que o próprio Batista realiza
nos arquivos policiais, em busca
das fichas referentes a Herzog.
Outra coisa: onde anda, se é que
ainda vive, o jornalista Claudio
Marques, que em sua coluna no
"Shopping News" atiçou os militares contra o suposto "antro comunista" da TV Cultura?
Mesmo sem responder a essas
questões, "Vlado" é um filme
pungente e necessário.
Vlado - 30 Anos Depois
Direção: João Batista de Andrade
Produção: Brasil, 2005
Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco
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