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Darín vive detetive em filme noir
Ator argentino, que fez "Nove Rainhas" e "O Filho da Noiva", protagoniza "La Señal", que tem exibição no Rio
A morte do cineasta Mignogna, que convidara Darín para o filme, levou o argentino a também assumir a direção do projeto
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Filho de atores, Ricardo Darín começou a se tornar íntimo
dos palcos aos 10 anos de idade.
O maior astro do cinema argentino atual nunca estudou
interpretação, mas acha que
aprendeu o ofício da melhor
forma possível -"com adultos
que não se davam conta de estar ensinando a uma criança".
Na ausência do "tom acadêmico", julga ele, as lições não
são propriamente memorizadas, mas sim "gravadas a fogo"
no aluno que as aprende.
E uma coisa que Darín aprecia são as lembranças perenes.
"Não esqueço quase nada. Tenho uma memória obsessiva.
Lembro das coisas que aconteceram e da forma que as pessoas se comportaram comigo."
No seu catálogo de memórias, as ruins também ficam arquivadas, mas com a condição
de não abrir caminho ao ressentimento. "Não caio nessa
armadilha. Se você for rancoroso, fica com a pior parte", diz.
Já as boas recordações estão
sempre escapando do baú, para
influenciar o presente de Darín. É o caso da que o fez estrear
como diretor num longa em
que apenas atuaria -"La Señal"
(o sinal), atração de amanhã no
Festival do Rio.
Paternal
Darín aceitara o papel do
protagonista do filme, proposto
pelo diretor Eduardo Mignogna, que havia sido "muito generoso e paternal" com ele no "começo da carreira", ou seja, na
sua infância, quando Mignogna
fazia parte do círculo de convívio de seus pais.
Pouco antes das filmagens,
no ano passado, Mignogna sucumbiu ao câncer, aos 66 anos.
"O mínimo que eu poderia fazer era não tirar o corpo fora e
concluir o trabalho dele", afirma Darín, que convidou Martín
Hodara para dividir com ele a
direção do filme, sem abandonar o papel do protagonista.
Ele interpreta o detetive Corvalán, que investiga casos de
traição conjugal e outras banalidades, ao lado do sócio Santana (Diego Peretti, de "Não Sou
Eu, É Você"). A rotina de Corvalán muda quando uma sedutora e misteriosa mulher o contrata para seguir os passos de um homem, sem explicar que
informação quer obter, mergulhando sua carreira (e sua vida)
numa trama de negócios ilícitos e vinganças familiares.
Santana, o sócio de Corvalán,
acha que a vida emite sempre"um sinal" quando está prestes a mudar de rumo -daí o título. Corvalán descrê da teoria e se envolve com a mulher que
era um alarme ambulante.
Mignogna havia contado esta
história num livro, antes de
pretender filmá-la. Quando assumiu a direção do longa, Darín
modificou o roteiro.
"A trama policial ganhou força e deixou a história um pouco
mais escura, densa, áspera",
conta. "La Señal" ganhou, enfim, os ingredientes para se
transformar num filme noir.
"Descobrimos que, fazendo o
filme assim, estaríamos homenageando o cinema de gênero e
produzindo um título muito raro na Argentina hoje."
Recém-estreado em Buenos
Aires, o filme convenceu crítica
e público. No Brasil, a data de
lançamento está indefinida.
Hodara, que co-dirige "La Señal" com Darín, era assistente
de direção de Fabián Bielinsky,
o autor de "Nove Rainhas" e
"Aura", ambos estrelados pelo
ator. Bielinsky morreu no ano
passado, em SP, onde gravava
um comercial. Aos 47 anos, era
hipertenso e sofreu infarto.
"Entre Fabián e eu houve
uma coisa difícil de acontecer
-você se tornar muito amigo
de alguém quando adulto. Éramos confidentes, amigos a ponto de dizer um ao outro a verdade absoluta. E isso nos impressionava, porque éramos muito
diferentes. Ele era reflexivo, sério, direito, um homem incrível. Ainda me custa muito falar
dele sem me emocionar", diz.
Darín acha que ainda não
"completou o luto por Bielinsky, porque sua morte foi tão
abruptamente surpreendente
que é como se ele ainda estivesse aqui". Por isso, quer suspender as atividades nos próximos
meses, "para fazer nada, em casa, e rever tudo o que aconteceu
nos últimos tempos".
Esses tempos em que ele dirigiu seu primeiro longa, no
qual há uma cena em que dois
grandes amigos se despedem
para sempre. Pensando bem,
pode ser um sinal de que Darín
nem tirou o corpo fora da tarefa
de levar adiante o projeto de
Mignogna, nem se esqueceu de
estrear na direção com alma.
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