São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2010

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Escritor satiriza discurso de cientistas e de ambientalistas

Ao construir personagem principal, McEwan quis retratar lado estúpido das pessoas muito inteligentes

Para autor, tragédia por aquecimento global é questão de tempo e Brasil pode ajudar a propor soluções

EDITORA DA ILUSTRADA

O protagonista de "Solar" é Michael Beard, um cientista cinquentão, premiado já há muito tempo por um trabalho relacionado a Einstein, quando o romance principia.
Pouco incomodado com o aquecimento global e a perspectiva de o mundo acabar, ainda assim ele integra uma comissão do governo britânico -gestão Tony Blair- dedicada a desenhar saídas para o momento crítico. Apesar de viver conquistando mulheres, o personagem é um fracassado do ponto de vista afetivo. Glutão e desleixado, vê sua quinta mulher traí-lo com um pedreiro, no melhor estilo "O Amante de Lady Chatterley".
Depois, será levado a ter uma filha à sua revelia. O que muda sua trajetória é um acontecimento inusitado. Um jovem aprendiz, que também estava tendo um caso com sua mulher, morre em um acidente em sua casa.
Beard não só faz com que a tragédia pareça um crime para incriminar o pedreiro, como rouba uma ideia do rapaz relacionada ao aproveitamento de energia solar por fotossíntese artificial.
A trama se estende até 2009, quando Beard se instala no Novo México, num empreendimento de uso da luz solar.

PROTAGONISTA
McEwan concorda com as semelhanças entre Beard e Henry Perowne, o protagonista de "Sábado", mas também vê diferenças.
"Perowne via o mundo desde o alto. Beard é fraco em suas emoções. De certo modo, representa a todos nós. Tem o grande atributo de ser muito inteligente e de agir de modo muito estúpido, como muita gente", explica.
O personagem de Beard é patético até comover e a narrativa anda pontuada de cenas engraçadas. Como a que relata como o pênis do personagem quase congela quando ele tem de urinar na neve.
McEwan, ainda, satiriza todo o tempo os discursos dos cientistas e dos defensores do ambiente.

TRAGÉDIA
O escritor diz não ter dúvidas de que uma tragédia se avizinha como consequência do aquecimento global.
"Não mudaremos nada apenas por sermos bonzinhos. Para isso é preciso lidar com gente ruim e ambiciosa.
Comprar um carro menor não resolverá nada, apenas adiará o problema."
Apesar de ter críticas quanto ao modo como o governo britânico trata o tema, acha que o Reino Unido lidera as iniciativas na Europa.
"Mas todos contamos com o poder do Brasil, que está surgindo como nova potência mundial, para ajudar nessa questão", completa.
(SYLVIA COLOMBO)


SOLAR

AUTOR Ian McEwan
TRADUÇÃO Jorio Dauster
LANÇAMENTO Companhia das Letras
PREÇO R$ 48 (344 págs.)


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