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Escritor satiriza discurso de cientistas e de ambientalistas
Ao construir personagem principal, McEwan quis retratar lado estúpido das pessoas muito inteligentes
Para autor, tragédia por aquecimento global é questão de tempo e Brasil pode ajudar a propor soluções
EDITORA DA ILUSTRADA
O protagonista de "Solar"
é Michael Beard, um cientista cinquentão, premiado já
há muito tempo por um trabalho relacionado a Einstein,
quando o romance principia.
Pouco incomodado com o
aquecimento global e a perspectiva de o mundo acabar,
ainda assim ele integra uma
comissão do governo britânico -gestão Tony Blair- dedicada a desenhar saídas para o momento crítico.
Apesar de viver conquistando mulheres, o personagem é um fracassado do ponto de vista afetivo. Glutão e
desleixado, vê sua quinta
mulher traí-lo com um pedreiro, no melhor estilo "O
Amante de Lady Chatterley".
Depois, será levado a ter
uma filha à sua revelia.
O que muda sua trajetória
é um acontecimento inusitado. Um jovem aprendiz, que
também estava tendo um caso com sua mulher, morre em
um acidente em sua casa.
Beard não só faz com que a
tragédia pareça um crime para incriminar o pedreiro, como rouba uma ideia do rapaz
relacionada ao aproveitamento de energia solar por
fotossíntese artificial.
A trama se estende até
2009, quando Beard se instala no Novo México, num empreendimento de uso da luz
solar.
PROTAGONISTA
McEwan concorda com as
semelhanças entre Beard e
Henry Perowne, o protagonista de "Sábado", mas também vê diferenças.
"Perowne via o mundo
desde o alto. Beard é fraco em
suas emoções. De certo modo, representa a todos nós.
Tem o grande atributo de ser
muito inteligente e de agir de
modo muito estúpido, como
muita gente", explica.
O personagem de Beard é
patético até comover e a narrativa anda pontuada de cenas engraçadas. Como a que
relata como o pênis do personagem quase congela quando ele tem de urinar na neve.
McEwan, ainda, satiriza
todo o tempo os discursos
dos cientistas e dos defensores do ambiente.
TRAGÉDIA
O escritor diz não ter dúvidas de que uma tragédia se
avizinha como consequência
do aquecimento global.
"Não mudaremos nada
apenas por sermos bonzinhos. Para isso é preciso lidar
com gente ruim e ambiciosa.
Comprar um carro menor
não resolverá nada, apenas
adiará o problema."
Apesar de ter críticas
quanto ao modo como o governo britânico trata o tema,
acha que o Reino Unido lidera as iniciativas na Europa.
"Mas todos contamos com
o poder do Brasil, que está
surgindo como nova potência mundial, para ajudar nessa questão", completa.
(SYLVIA COLOMBO)
SOLAR
AUTOR Ian McEwan
TRADUÇÃO Jorio Dauster
LANÇAMENTO Companhia das
Letras
PREÇO R$ 48 (344 págs.)
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