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29ª BIENAL DE ARTES
"Meu sonho é poder ver no Rio uma favela inteira pintada"
Artista holandês que coloriu as fachadas de comunidades cariocas participa hoje da Bienal
Em parceria com os próprios moradores das favelas, Dre Urhahn já pintou na Vila Cruzeiro e no morro Dona Marta
JULIANA VAZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Embora não tenha sido escalado para participar da Bienal, o holandês Dre Urhahn é
um artista que destoa entre
os outros do pavilhão.
Primeiro porque, pintor,
foi convidado para falar em
uma mostra de arte que privilegia o vídeo e as instalações
multimídia.
Segundo porque o seu suporte não são as telas, mas os
tijolos das favelas cariocas.
Vindo de Amsterdã, ele desembarcou às pressas, anteontem, em São Paulo. Reclamou do "jet lag" e disse
que foi chamado de última
hora, para integrar, hoje,
uma série de apresentações
no Ibirapuera organizada pelo consulado da Holanda
(leia programação ao lado).
Ele sabe apenas que o bate-papo deve girar em torno
do "Favela Painting", um
projeto "um pouco artístico,
um pouco político e um pouco social", que vem remodelando as habitações pobres
do Rio de Janeiro.
CHUVA E TIROS
Ao lado do conterrâneo Jeroen Koolhaas, 33 -que resolveu ficar em casa depois
de quebrar o pé pintando um
mural- Dre, 36, já jogou cor
nas comunidades cariocas
em três ocasiões.
A primeira vez foi em 2007,
na Vila Cruzeiro, uma das favelas que integram o Complexo do Alemão (zona norte), onde morou por oito meses. "Nossas principais dificuldades foram a chuva e os
tiros", lembra.
Depois de testemunhar
três ações do Bope (Batalhão
de Operações Policiais Especiais) e sete passagens do
"caveirão", o duo deixou estampada sobre um muro a
imagem de um garoto soltando pipa. Agradou aos moradores, enquanto os traficantes diziam que ali era "o lugar
errado" para a arte.
Um ano mais tarde, na
mesma Vila Cruzeiro onde se
sentem "em casa", Dre e Jeroen deixaram sua marca em
uma escadaria que leva ao topo do morro.
MORADORES
Mas o maior feito do duo, e
certamente o mais visado por
turistas, foi terminado neste
ano, no morro Dona Marta,
em Botafogo (zona sul).
Ali, os holandeses imprimiram listras coloridas a 34
casas da comunidade, que
em 2008 recebeu a primeira
UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do Rio.
Além do patrocínio de
uma marca de tintas, tiveram
o apoio dos moradores da favela, que receberam instrução para pintar. "A carreira
de pintor é um início", afirma
Dre, que diz só haver sentido
no projeto se acompanhado
de melhorias sociais.
A dupla está agora levantando fundos para realizar
sua obra-prima: "Eu quero
ver uma favela inteira pintada, eu quero ver".
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