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comida
Festa da Salsicha
No mês de outubro, as festas típicas da Alemanha alavancam a venda dos embutidos típicos nas ruas daquele país; confira a agenda de eventos e onde encontrar suas variedades em SP
LUIZA FECAROTTA
RAFAEL BALSEMÃO
DE SÃO PAULO
"O que é indigesto não é
gastronômico", respondeu o
maître Dunand a Napoleão
Bonaparte quando o imperador perguntou-lhe por que
diabos nunca lhe serviam
linguiça de porco.
Segundo os relatos do escritor francês Alexandre Dumas, ele insistiu. No dia seguinte, então, estava sobre a
mesa do palacete a linguiça.
De carne de perdiz. E Bonaparte se esbaldou.
Da mesma família, as salsichas (mais macias) são típicas nas ruas na Alemanha,
dificilmente encontradas em
restaurantes. E é em outubro
que a venda do embutido é
alavancada por conta das
festividades.
No próximo domingo,
aquele país celebra os 20
anos de sua reunificação,
que ocorreu em 3 de outubro
de 1990, um ano após a queda do muro de Berlim.
Ao longo dessas duas décadas, muita coisa mudou,
mas, quando o assunto é comida, a salsicha ainda é a
grande marca da região. Os
mais entusiastas chegam a
contabilizar cerca de 1.500
variedades do embutido.
A Berna, empresa que comercializa salsichas, estima
um aumento de demanda de
cerca de 20% nesse mês.
A cervela (salsichão bovino), a schüblig (salsichão
suíno, levemente defumado)
e a weisswurst (salsicha
branca com carne de vitela e
suína) são as mais consumidas, segundo José Vidal de
Barros, gerente de vendas.
Considerada a mais tradicional, a kalbsbratwurst (salsichão de carne de vitela) é
encontrada nas ruas da Alemanha, geralmente servida
com um molho feito à base
de ketchup e curry, adaptado
do americano barbecue.
Já a frankfurter, defumada, come-se com pão, como
um cachorro-quente. "Na hora em que se morde, tem que
fazer "ploc'; é sinônimo de
qualidade", diz Vidal.
Ambas brancas, aqui fazem sucesso na comunidade
alemã -os brasileiros preferem as vermelhas, do clássico sanduíche americano.
TRIPAS
Na Antiguidade, era comum encher tripas, peles e
estômagos de animais com
água para utilizá-los como
recipiente. Eram "confiavelmente impermeáveis e bastante elásticos", diz Felipe
Fernández-Armesto em "Comida - Uma História".
Segundo ele, as salsichas
são resquícios desse estilo
culinário -"as melhores são
produzidas recheando-se tripas de animais", outrora usada pelos nômades para transportar sangue de animais,
caso sentissem sede.
Embutidos vieram depois
disso para que fosse possível
aproveitar todas as partes do
animal. "Nas aulas de cozinha na Alemanha, a gente
precisa desossar os animais e
aproveitar cada peça de forma que não haja sobra", diz o
chef alemão Tassilo Drosdek,
do Lukullus.
Na Grécia Antiga, vender
salsichas significava comercializar o que sobrava da carne de primeira, que era vendida por açougueiros.
Lá atrás, o chanceler alemão Otto Von Bismarck
(1815-1898) disse que "leis
são como salsichas; é melhor
não saber como são feitas".
Em comum entre as variedades do prato são os recortes e as partes menos nobres
do animal. "São utilizados
peles, cartilagens, medula,
cérebro, carcaça de frango
etc", explica o engenheiro de
alimentos Alfredo Walter.
Para embalar esse patê,
hoje há tripas artificiais, de
celulose, usadas nas grandes
indústrias. Mas a tripa natural ainda resiste.
Alan Davidson ressalta,
aliás, que estas são levemente porosas e isso permite que
a "salsicha seque facilmente" e cozinhe "sem estourar".
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