São Paulo, quarta, 30 de setembro de 1998

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MÚSICA
Chorando Alto tem flamenco, pop e jazz

Antonio Gaudério - 25.mar.98/Folha Imagem
O músico Ed Motta, que troca o funk pelo choro no "Chorando Alto"


SYLVIA COLOMBO
Editora-assistente da Ilustrada

Esqueça a imagem do conjunto regional de chorinho nos moldes tradicionais. Aquela formação engessada de violão, cavaquinho e percussão, com os integrantes vestindo roupas claras de estampas iguais, perfilados de forma comportada, está sendo preterida pelos novos músicos, de olho na renovação do público e no mercado internacional.
A terceira edição do evento Chorando Alto, que tomará o palco do Sesc Pompéia entre os dias 28 de outubro e 2 de novembro, tenta sepultar a imagem datada do chorinho como estilo amarelado pelo passar do tempo e repetitivo nos seus temas clássicos.
"Ninguém acha que o blues deve dar explicações a toda hora, mas o choro precisa, porque brasileiro tem preconceito com as coisas do Brasil", desabafa o sambista Eduardo Gudin. Para quebrar esse ranço, Gudin vai mostrar seu último disco "Notícias dum Brasil", que traz choros lentos com letra e uma composição instrumental feita só para o evento.
O Chorando Alto homenageia Jacob do Bandolim (1918-1969), que, a seu modo, também foi um renovador do estilo, na sua obsessão por chegar a um formato definido para o bandolim brasileiro e incrementando-o com ornamentos originários da guitarra portuguesa.
"Quero fazer pontes entre os estilos, o ponto alto vai ser o encontro de Herbie Man com Joyce e Gilson Peranzeta", disse o organizador do evento, Helton Altman. Segundo ele, o flautista americano e os músicos brasileiros vão fazer "o choro se encontrar com o jazz, usando Tom Jobim e outros brasileiros".
A idéia se inspirou na iniciativa de Hermínio Bello de Carvalho, em 68, quando juntou Jacob do Bandolim e o Zimbo Trio num show. Na época, este último era representante de um som "moderno", antenado com recursos do jazz americano.
Além de Man, outra atração internacional é o pianista Clare Fischer, conhecido por fazer arranjos para discos de João Gilberto.
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Novos
Formado no próprio Chorando Alto, na versão de 1996, o Trio Madeira Brasil chega a São Paulo para lançar seu inusitado trabalho. Tendo o choro como fundo, o grupo trabalha com ritmos espanhóis e elementos de música pop, dispensando a percussão para investir em experimentações melódicas.
"A ligação do nosso som com o choro passa pelo improviso, mas nos distanciamos do seu formato tradicional", diz o violonista Marcello Gonçalves. No repertório do trio de cordas -formado pelo próprio Gonçalves, Ronaldo do Bandolim e José Paulo Becker- figuram valsas de Jacob do Bandolim, apresentadas com a levada do violão flamenco, composições de Ernesto Nazareth (1863-1934), adaptadas ao bandolim e do compositor espanhol Manuel De Falla (1876-1946).
O Água de Moringa segue também um caminho permeado pelo pop. O grupo de estudantes de música faz adaptações para o choro de clássicos da MPB.
Uma das apostas dos organizadores do evento é o jovem Dyamandu Costa, um violonista gaúcho de 15 anos, que se apresenta com outros dois instrumentistas de Porto Alegre: Luiz Carlos Borges e Plauto Cruz.
Mas novo mesmo no elenco é, acredite quem quiser, o cantor Ed Motta. Nada de funk e soul, o que o músico carioca vem mostrar é o seu repertório de choros e valsas.
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Velha guarda
Um pouco da obra de Francisco Mignone, Villa-Lobos e Radamés Gnattali chegará pelas mãos do pianista Arthur Moreira Lima, enquanto a ligação da música erudita brasileira com o regional será apresentada por Turíbio Santos.
Fundado pelo homenageado Jacob do Bandolim, o Época de Ouro também vai seguir a cartilha do velho formato. "Vamos continuar tocando e gravando as músicas de Jacob, nossa existência é uma homenagem a ele", diz Jorginho, líder do Época.



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