São Paulo, terça-feira, 30 de outubro de 2001

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Saudades do paraíso

Divulgação
"Narrow Stage", da artista alemã radicada na Inglaterra Rut Blees Luxemburg, que participa de "Landscape - Paisagem", no Masp



Masp apresenta "Landscape - Paisagem", com 19 artistas da nova geração britânica, que lança olhar nostálgico sobre o caos urbano


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos temas mais recorrentes na história da pintura ganha hoje mostra com uma visão contemporânea. "Landscape - Paisagem" apresenta no Museu de Arte de São Paulo (Masp) 19 artistas baseados na Inglaterra.
No entanto, apesar da tradição de retratar a paisagem como cenário idílico -casos do inglês J.M.W. Turner (1775-1850) ou ainda do alemão Caspar David Friedrich (1774-1840), influências declaradas dos artistas na mostra-, o que se vê é um olhar nostálgico, de lembranças remotas da natureza no caos urbano.
"A paisagem é uma temática incomum na arte contemporânea, que surge com força revigorada na nova geração britânica", diz a curadora da exposição, Ann Gallagher. Em sua seleção, a curadora reúne não só artistas ingleses, mas vários estrangeiros residentes no país, caso do alemão Wolfgang Tillmans, que ganhou o prestigiado Prêmio Turner, da Tate Gallery, no ano passado.
Tillmans comparece com imagens da série "Concorde", de 1997. Apenas nove fotografias do artista estão na mostra. "Elas foram selecionadas pelo próprio Tillmans, que também idealizou a forma expositiva das obras", diz Gallagher. Elas estão envoltas em um painel de acrílico. Em geral, as fotos de Tillmans são pregadas diretamente na parede.
"Landscape", organizada pelo British Council, foi inaugurada em Weimar (Alemanha) no ano passado. Já circulou por museus da Itália, Rússia e Espanha. Chegou ao Masp por sorte, pois estava prevista para o Ohtake Cultural, que não ficou pronto a tempo.
Em cada cidade, a exposição ganha um número variável de obras e artistas, conforme o espaço. No Brasil, já passou pelo Museu de Arte Contemporânea de Niterói. "Lá tivemos uma dura concorrência com a bela paisagem externa", brinca Gallagher.
Ao Masp, "Landscape" chega com uma prévia de Willie Doherty, artista irlandês que representa a Inglaterra na Bienal Internacional de São Paulo, que deve ser aberta em março do próximo ano. "Doherty já fazia parte da exposição desde o início. Para cá, trouxemos duas obras: uma videoinstalação e duas fotos", afirma Gallagher. Nas fotografias, o artista apresenta imagens de detalhes de paisagem, relacionadas a incidentes no norte da Irlanda. As belas composições dão apenas pistas da real situação de conflito.
Essa dualidade entre realidade e aparência é explorada por vários artistas. Mat Collishaw, por exemplo, em sua série "Flores Infectas", apresenta fotografias de flores que receberam tumores cancerígenos humanos por meio de tratamento da imagem. De longe são apenas belas flores, de perto, sinais de desvio e decomposição.
Ambiguidades também estão presentes nas imagens de Rut Blees Luxemburg. A artista alemã capta restos da natureza no cenário urbano. "Muitas vezes, as árvores em uma cidade ou uma poça da água são as referências da natureza para os artistas."
O percurso da mostra começa com obras vinculadas à forma contemporânea de olhar a paisagem, ou seja, nas viagens feitas por carro, avião ou trem. Segue com as imagens ambíguas sobre o tema e termina com as obras irônicas de David Shirgley. "O bom humor sempre deve estar presente numa exposição com ingleses", afirma a curadora.


LANDSCAPE - PAISAGEM - mostra com 47 obras de 19 artistas contemporâneos que vivem na Inglaterra. Curadoria: Ann Gallagher. Onde: Museu de Arte de São Paulo (av. Paulista, 1.578, SP, tel. 0/xx/ 11/251-5644). Quando: de ter. a dom., das 11h às 18h. Até 9/12. Quanto: R$ 10. Patrocinador: British Council.



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