|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÔNICA BERGAMO
Ana Ottoni/Folha Imagem
|
|
Luana (à esq.) com Elke: "Dizem que ela sou eu amanhã; tomara mesmo que eu seja assim"
Luana Piovani interpreta Elke Maravilha quando jovem no filme que conta a história de Zuzu Angel
Às mil maravilhas
Uma dúvida aflige a atriz
Luana Piovani: seria o terrorista Osama Bin Laden o
Jesus Cristo do terceiro milênio? Quem disse isso a ela foi
Elke Maravilha, sua nova grande amiga. Luana vai interpretar
Elke no filme "Zuzu Angel". Elke era modelo e amiga da estilista Zuzu.
Segunda-feira, 24. As duas estão em Juiz de Fora para filmar
as cenas finais do longa. Almoçam no restaurante de um hotel.
Elke conta uma história atrás da
outra. "Ah, adoro o Bin Laden",
diz. Luana afirma que, quando
Elke revelou a ela que o terrorista pode ser Jesus, passou mal.
"Eu sou cristã pra caramba. Foi
me dando uma volta na barriga... Eu falei: meu Deus do céu,
meu Jesus! Caraca! Eu tô esperando Jesus e não é que ele já tá
bombando por aqui?" Só não
entrou de cabeça na tese da amiga porque, diz, "eu creio muito
no bem".
Elke cita a Bíblia: Mateus, 10,
34: "Não julgueis que vim trazer
paz à terra. Não vim trazer-lhe
paz mas a espada. Porque vim
separar o homem contra o seu
pai, e a filha contra sua mãe".
Palavras de Jesus. Poderiam ser
de Bin?
Elke saboreia um steak tartar.
Declama poemas. Fala de religião, de filosofia, da vida. "Somos todos corruptíveis. Ou
não?" Luana concorda. "Ah, eu
sou, facinho", diz. Ao lado delas
está Patrícia Pillar. Ela será Zuzu
no filme.
Elke lembra de sua história
com a estilista. Década de 70.
Zuzu denuncia o desaparecimento do filho, Stuart Angel,
militante de esquerda morto pela repressão. Escreve a artistas,
políticos, intelectuais. Entrega
um dossiê a Henry Kissinger.
Faz comícios em aviões, em desfiles. Desafia a ditadura militar.
Elke acompanha seu martírio.
Certo dia, no aeroporto Santos Dumont, no Rio, vê militares
colando cartazes: "Terroristas
procurados". Sob a inscrição,
uma foto de Stuart Angel. "É o
filho da Zuzu! Eles mataram,
agora põem cartaz procurando?" Elke faz escândalo. Arranca os cartazes. Discute com os
militares. Fala palavrões. "Eles
[militares] detestam palavrão.
Eles são finos!", diz. "Baixou o
russo em mim, sabe? [seu pai,
George Grunupp, era russo]"
Elke vai presa. Fica seis dias no
cárcere. "Bobagem. Meu pai
passou seis anos na Sibéria no
tempo do Stálin, foi considerado traidor da pátria. Coitadinho
do [ex-presidente] Médici...",
diz, irônica. "Eu passava lápis
verde nas sobrancelhas, maquiagem e ia para os interrogatórios. Eu tinha medo. Mas não
podia arregar pra essa gente."
Seu passaporte foi apreendido. Sua nacionalidade, cassada.
"Virei apátrida, amada", explica. Nunca regularizou a situação. "Ah, meu amor, eu não. Ia
ter que entrar na Lei da Anistia ,
confessar culpa. Só porque rasguei um cartaz?" Elke tem orgulho: "Quem é apátrida no mundo, meu bem? Pouca gente. Eu
sou." Como o pai, George, que
perdeu a nacionalidade russa.
Já Luana não sabia quem era
Zuzu antes de ser convidada para o filme. "Me deu até vergonha. Moro há dez anos no Rio,
vi o túnel [Dois Irmãos] mudar
de nome para túnel Zuzu Angel,
mas não conhecia a história."
Depois do almoço, as atrizes
seguem para o cabaré Sayonara.
É lá que será gravada a cena em
que Zuzu (Patrícia Pillar) e Elke
(Luana) vêem o espetáculo da
cantora alemã Lieselotte (Elke
Maravilha).
São maquiadas num prédio ao
lado da boate. Patrícia liga seu
iPod. Cantarola Roberto Carlos.
"(...)Te dar meu corpo, depois
do amor, o meu conforto...". Elke pergunta a Luana: "E aí, Elkinha, papou direitinho?". E Luana: "Papei e ainda dei uma chapadinha". Elke faz o sinal, com
as mãos, de quem bebe. "Também vou dar uma chapadinha.
Ah, vou! É de lei, né?".
Elke, por ser apátrida, não vota. Mas teria ajudado a eleger
Lula em 2002. "Sabe quando eu
saquei que ia melar? Quando o
Lula tomou posse e chorou. Eu
falei: "Ihh! Ai, ai..." É aquilo: homem que chora e mulher que
jura é mentira pura." Luana
concorda: "Eu abomino a idéia
de ele ser reeleito. Tô totalmente
decepcionada."
Elke, 60, comenta que já casou
oito vezes (Sacha, o atual marido, é 27 anos mais novo que
ela). "E meus casamentos duraram!". Quer dizer, mais ou menos: "Teve um que era psicopata
e durou só dois meses". Risos.
Luana, 29, fica surpresa com
tanto matrimônio: "Cara, acho
que não vou casar nunca".
Elke diz que deixa os maridos
"totalmente soltos". "É a melhor receita, meu bem", diz Luana. A atriz tenta ligar para o namorado, Ricardo Mansur. Deixa recado. "Oi, more. Achei que
você já tivesse chegado. Eu ligo
mais tarde, tá?" Como ela tem se
adaptado ao universo de Mansur, a elite paulistana? "Os jovens são tão vazios, cara!", diz.
Os velhos são "mais engraçados". E o namorado está mudando. "Ele fez tatuagem, rastafari. E tá adorando."
Prontas para filmar, as duas
vão até o cabaré. O lugar é espelhado, com mesas forradas por
toalhas vermelhas. O diretor do
longa, Sérgio Rezende, criou a
personagem Lieselotte (o nome
da mãe de Elke), uma cantora
alemã, para que ela tivesse participação especial no filme. Elke
canta. Em alemão. Luana, Elke
quando jovem, traduz. "Nos
quartéis eles esperam/ Nos
quartéis eles são treinados/
Sempre foi assim e nunca termina/ Com meninas bonitas eles
sonham/ As meninas bonitas
eles têm que abandonar."
Elke diz que é bom envelhecer.
"Não tem problema. Agora, eu
vou ficar muito triste se um dia
não conseguir chamar a atenção
de ninguém." Naquele dia, as
filmagens se prolongaram até
quase 5 horas da manhã. Elke
agüentou firme. No fim dos trabalhos, estourou uma garrafa de
champanhe que trouxe a Juiz de
Fora para comemorar.
Texto Anterior: O ataque do clone Próximo Texto: TV Paga: "Mandrake" traz o que a Globo "não exibiria" Índice
|