São Paulo, terça-feira, 30 de outubro de 2007

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Análise/show

Tim Festival amontoa artistas que vão da obviedade à inovação

No Anhembi, espetáculo teve Arctic Monkeys e Björk e acabou apenas às 5h de ontem, com três horas de atraso

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

O que está acontecendo com a música pop hoje? Para qual direção ela segue? Diferentes trajetos foram percorridos no Tim Festival ocorrido na Arena Skol Anhembi, entre domingo e a madrugada de ontem. Enquanto alguns artistas trilham caminhos sinuosos, outros optam por uma rota fácil e segura.
O público teve de enfrentar grandes percalços. O evento acabou apenas às 5h de ontem (um tortuoso atraso de três horas) quando a banda The Killers finalizou o hit "All These Things that I've Done".
A perna paulistana do evento continuaria ontem à noite, com shows de Craig Armstrong e CirKus (de Neneh Cherry), no Auditório Ibirapuera. Curitiba recebe amanhã, na pedreira Paulo Leminski, as bandas Hot Chip, The Killers e Arctic Monkeys, além da cantora Björk.
Até a conclusão desta edição, a organização não havia contabilizado o público total do Anhembi. Até as 21h de domingo, o público chegava a 23,3 mil.
Segundo a organização do evento, a causa principal dos atrasos foi a chuva que caiu em São Paulo no sábado. Björk não pôde passar o som no dia e teve que adiar para domingo. Assim, o Killers só fez sua passagem de som antes de iniciar seu show.
Com Björk fazendo a passagem de som no domingo, a primeira banda a tocar, os electro-rappers Spank Rock, começou o show às 19h (meia hora de atraso). O que eles fazem não é rap convencional -tem muita percussão, elementos eletrônicos e bom humor. A variedade trouxe uma riqueza rítmica em alguns momentos; em outros, a impressão é que a banda se perdia em meio à confusão sonora.
Por fazer música dançante, o quinteto inglês Hot Chip é colocado no gênero "eletrônica", mas, ao vivo, se comportam como uma banda pop -pouco ortodoxa, mas uma banda pop.
Há percussão, baixo, teclados, sampler, sintetizador. São equipamentos a serviço de músicas que desafiam rótulos estilísticos; são ora baseadas na repetição de batidas, ora no desenvolvimento melódico.
O show foi interrompido por 18 minutos por uma pane no sistema de força do palco. Após o intervalo, a banda encerrou com o irresistível mantra electro-pop "Over and Over".
Aí veio Björk e seu carnaval ritualístico. Muitas cores, papel picado, bandeironas coloridas no palco, dez instrumentistas de sopro... A islandesa procura algo diferente, inovador, e nessa busca às vezes erra a mão -torna-se hermética, tediosa.
Mas os acertos se impõem -a melodia quebrada de "Earth Intruders", a incisiva "Declare Independence", as releituras de "Army of Me" e "Jóga".
Se Björk tenta esticar os padrões da música pop por meio de um apelo audiovisual conectado com a arte contemporânea, a atriz Juliette Lewis com sua banda, The Licks, encenou todos os clichês possíveis do rock and roll. Disse que queria beijar todo o mundo, enrolou-se com bandeira do Brasil, cada integrante de sua banda medíocre fez um solo quando apresentado ao público e por aí vai.
E como fazer algo diferente utilizando o velho formato guitarra, baixo e bateria? Com um rock que vai do punk ao reggae, com faixas que possuem andamento variante, com um vocalista que tem clara influência do rap e do grime britânico (de fala rápida). Assim é o Arctic Monkeys, que tomou o Anhembi entre as 2h e as 3h de ontem.
Canções como "Teddy Picker" e "Brianstorm" fogem do padrão verso-refrão-verso comum em bandas convencionais -como a americana The Killers, que encerrou a maratona.
O show se pretende grandioso. Mas por trás do virtuosismo musical e cênico, dos gestos de Brandon Flowers, restam canções anêmicas e esquemáticas.


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