|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Análise/show
Tim Festival amontoa artistas que vão da obviedade à inovação
No Anhembi, espetáculo teve Arctic Monkeys e Björk e acabou apenas às 5h de ontem, com três horas de atraso
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
O que está acontecendo
com a música pop hoje? Para qual direção
ela segue? Diferentes trajetos
foram percorridos no Tim Festival ocorrido na Arena Skol
Anhembi, entre domingo e a
madrugada de ontem. Enquanto alguns artistas trilham caminhos sinuosos, outros optam
por uma rota fácil e segura.
O público teve de enfrentar
grandes percalços. O evento
acabou apenas às 5h de ontem
(um tortuoso atraso de três horas) quando a banda The Killers finalizou o hit "All These
Things that I've Done".
A perna paulistana do evento
continuaria ontem à noite, com
shows de Craig Armstrong e
CirKus (de Neneh Cherry), no
Auditório Ibirapuera. Curitiba
recebe amanhã, na pedreira
Paulo Leminski, as bandas Hot
Chip, The Killers e Arctic Monkeys, além da cantora Björk.
Até a conclusão desta edição,
a organização não havia contabilizado o público total do
Anhembi. Até as 21h de domingo, o público chegava a 23,3 mil.
Segundo a organização do
evento, a causa principal dos
atrasos foi a chuva que caiu em
São Paulo no sábado. Björk não
pôde passar o som no dia e teve
que adiar para domingo. Assim,
o Killers só fez sua passagem de
som antes de iniciar seu show.
Com Björk fazendo a passagem de som no domingo, a primeira banda a tocar, os electro-rappers Spank Rock, começou
o show às 19h (meia hora de
atraso). O que eles fazem não é
rap convencional -tem muita
percussão, elementos eletrônicos e bom humor. A variedade
trouxe uma riqueza rítmica em
alguns momentos; em outros, a
impressão é que a banda se perdia em meio à confusão sonora.
Por fazer música dançante, o
quinteto inglês Hot Chip é colocado no gênero "eletrônica",
mas, ao vivo, se comportam como uma banda pop -pouco ortodoxa, mas uma banda pop.
Há percussão, baixo, teclados, sampler, sintetizador. São
equipamentos a serviço de músicas que desafiam rótulos estilísticos; são ora baseadas na repetição de batidas, ora no desenvolvimento melódico.
O show foi interrompido por
18 minutos por uma pane no
sistema de força do palco. Após
o intervalo, a banda encerrou
com o irresistível mantra electro-pop "Over and Over".
Aí veio Björk e seu carnaval
ritualístico. Muitas cores, papel
picado, bandeironas coloridas
no palco, dez instrumentistas
de sopro... A islandesa procura
algo diferente, inovador, e nessa busca às vezes erra a mão
-torna-se hermética, tediosa.
Mas os acertos se impõem
-a melodia quebrada de "Earth
Intruders", a incisiva "Declare
Independence", as releituras
de "Army of Me" e "Jóga".
Se Björk tenta esticar os padrões da música pop por meio
de um apelo audiovisual conectado com a arte contemporânea, a atriz Juliette Lewis com
sua banda, The Licks, encenou
todos os clichês possíveis do
rock and roll. Disse que queria
beijar todo o mundo, enrolou-se com bandeira do Brasil, cada
integrante de sua banda medíocre fez um solo quando apresentado ao público e por aí vai.
E como fazer algo diferente
utilizando o velho formato guitarra, baixo e bateria? Com um
rock que vai do punk ao reggae,
com faixas que possuem andamento variante, com um vocalista que tem clara influência
do rap e do grime britânico (de
fala rápida). Assim é o Arctic
Monkeys, que tomou o Anhembi entre as 2h e as 3h de ontem.
Canções como "Teddy Picker" e "Brianstorm" fogem do
padrão verso-refrão-verso comum em bandas convencionais
-como a americana The Killers, que encerrou a maratona.
O show se pretende grandioso. Mas por trás do virtuosismo
musical e cênico, dos gestos de
Brandon Flowers, restam canções anêmicas e esquemáticas.
Texto Anterior: Cecilia Giannetti: Ladeira abaixo Próximo Texto: Análise/show: Noite Jazz US teve shows de alto nível, mas acabou com meia sala vazia Índice
|