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Coletivas em galerias enchem circuito paralelo
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
"Corte de florista" é como os
guerrilheiros colombianos chamavam a prática de decepar os
membros da vítima e encaixar,
no lugar da cabeça, braços e
pernas, como se saíssem de um
vaso de flores, dando dimensão
estética e macabra à morte.
Na obra que leva o mesmo
nome do ritual assassino, o colombiano Juan Manuel Echevarría fotografa ossos humanos
fora de escala, que dispõe em
forma de flores. É o trabalho
mais contundente da coletiva
"Otras Floras", com curadoria
de José Roca, em cartaz na galeria Nara Roesler, uma das
melhores mostras do circuito
off-Bienal do Vazio, que tem
também coletivas nas galerias
Millan, Luisa Strina, Marília
Razuk e Raquel Arnaud.
Na Nara Roesler, Echevarría
também mostra um vídeo em
que dois papagaios brigam para
se equilibrar sobre uma cruz,
alusão sutil à morte. Mais
agressivo, o belga Jan Fabre
monta uma cruz que é, ao mesmo tempo, espada coberta de
escaravelhos, além de um crânio que morde um roedor.
A cruz, a espada e as flores
lembram as viagens dos conquistadores pela América,
quando dizimaram os povos locais e levaram à Europa representações aproximadas da fauna e da flora para estudos botânicos e biológicos. "O discurso
da ciência sempre escondeu
motivos políticos e a própria
subjetividade", resume Roca.
Exemplo dessa dimensão política, a obra de Johanna Calle
são desenhos de folhas, cujas linhas são frases de um texto em
fonte minúscula sobre o uso
nocivo de agrotóxicos para controlar e erradicar plantações de
coca na Colômbia.
Off-vazio
Levando ao circuito paralelo
a provocação do andar vazio da
Bienal, a galeria Luisa Strina
também deixa quase vazio seu
cubo branco, agora preto. Em
"This Is Not a Void", com curadoria do costa-riquenho Jens
Hoffmann, a dupla Elmgreen &
Dragset pintou de branco a fachada da galeria e de preto o espaço interno. Enquanto isso, a
canadense Arabella Campbell
usou a mesma tinta branca que
cobre o pavilhão da Bienal no
andar de cima da galeria.
Há ainda obras de Renata Lucas e do britânico Cerith Wyn
Evans, todas tão sutis que se
perdem no espaço.
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