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Elogios à ditadura prejudicaram avaliação crítica dos romances
DO ENVIADO A QUIXADÁ (CE)
No centenário de seu nascimento, ainda intriga o curioso e inusitado caminho
que Rachel de Queiroz trilhou politicamente.
Comunista na juventude,
a autora defendeu publicamente o governo militar que
tomou o poder em 1964.
Os textos políticos da escritora são tema de pesquisa
da pós-graduanda Natália
Guerellus. Ela estuda as crônicas que Rachel publicou na
revista "O Cruzeiro" entre
1945 e 1964.
Num dos textos, publicado
em junho de 64, refere-se ao
golpe de 31 de março saudando "as alegrias que nos proporcionou a derrubada do
janguismo" e a "ascensão do
nosso impecável presidente
Castelo Branco e da equipe
de homens excelentes".
Em agosto do mesmo ano,
na crônica intitulada "Manter as Aparências", pede paciência aos que já se desiludiram com a "revolução".
"Como se estava não era
possível continuar. E também não se poderia fazer revolução sem repressão."
Duas questões devem ser
levadas em consideração aí:
a oposição ferrenha que fazia
ao governo de João Goulart,
presidente deposto pelo golpe a quem via como sucessor
do populismo de Getúlio Vargas, e a proximidade com
Castelo Branco, de quem era
parente distante.
"Rachel tinha horror ao
populismo e achava que os
militares poderiam ser uma
vertente modernizadora na
política", diz Guerellus.
"Mas é preciso esclarecer",
acrescenta, "que o apoio se
limitou ao período de Castelo
Branco. Não continuou no
resto da ditadura".
Para a pesquisadora Heloisa Buarque de Hollanda, 71, o
apoio explícito aos militares
prejudicou a avaliação da
obra da escritora.
"Eu era uma jovem de esquerda na década de 60 e
lembro que os estudos sobre
Rachel ficaram congelados
nas universidades."
A pesquisadora argumenta que o apoio circunstancial
ganhou grande repercussão
devido ao "calor da hora".
"A universidade era muito
cruel. Eu era muito cruel", ri.
"Mas hoje isso não interfere mais e podemos avaliar o
grande talento dela."
(MRA)
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