São Paulo, sexta, 30 de outubro de 1998

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MÚSICA
"Eu Sou Todos Nós' é composto por canções feitas nos últimos dois anos
Zé Ramalho volta em inéditas

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
enviado especial ao Rio

O paraibano Zé Ramalho, 49, reata o nó em "Eu Sou Todos Nós". Seu novo CD retoma o veio explorado em "Cidades & Lendas" (96, 50 mil cópias vendidas) de canções em geral inéditas, que havia sido interrompido pelo estrondo de "Antologia Acústica" (97, 500 mil cópias), todo feito de regravações.
"Cidades & Lendas' marcou o início de uma nova etapa na minha vida, foi uma recuperação. Eu tinha sido quase apagado, ia sair pela porta dos fundos", afirma, referindo-se a meados dos 80, quando enfrentava o consumo pesado de drogas e uma acusação de plágio.
"Aquele disco foi produzido por mim, independentemente. A BMG pegou como uma isca, um boi de piranha. Soltou 10 mil cópias para ver se funcionava", relata.
Após o "boi de piranha", o caminho se abriu com "O Grande Encontro" (96, 500 mil cópias), a reunião de Zé com Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Elba Ramalho.
O sucesso do projeto, também de releituras, permitiu que em seguida Zé revisasse a própria obra, àquela altura semi-esquecida.
O desafio, agora, é segurar a onda de revalorização num CD de canções compostas nos últimos dois anos. "É a trilha sonora da minha vida neste momento", diz.
"Pela gravadora, eu certamente faria "Antologia 2', mas a sequência natural para mim era um disco de inéditas", continua. As cifras de vendas -talvez surpreendentes para a BMG- credenciaram Zé a fazer certas exigências contratuais.
"Fiz questão de definir tudo no contrato, três obras fechadas, todas já definidas: essa que está saindo, o duplo "Nação Nordestina' e "Zé Ramalho Canta Raul Seixas'."
A gravadora queria que o último fosse o primeiro, mas parece que Zé anda mesmo com cacife. E, soltando "Eu Sou Todos Nós", já se entusiasma com seu sucessor.
"Nação Nordestina' será essencialmente político. É uma seleção de autores do Nordeste, de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro até nomes desconhecidos, falando da condição do nordestino. Estou montando o repertório, é uma configuração assustadora. Vai incomodar", prevê.
Há política também no CD "Sem-Terra". "Hoje é fora de moda, mas, se eu fizesse no tempo dos militares seria preso e torturado até a alma. Usei a estrutura da canção de protesto, dos festivais. É um diálogo com "Caminhando', de Geraldo Vandré."
Zé aproveita para desnudar admiração e proximidade (in) esperadas de Vandré -afastado da mídia desde episódios de suposta tortura durante o regime militar.
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O jornalista Pedro Alexandre Sanches viajou a convite da gravadora BMG



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