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São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2003

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"Cabocla" critica coronelismo

FREE-LANCE PARA A FOLHA

A crítica à política nacional, ao latifúndio e ao coronelismo sempre vão persistir na obra de Benedito Ruy Barbosa, segundo o próprio autor.
Após a desistência da cúpula da diretoria da Globo em regravar "O Profeta" (77), de Ivani Ribeiro, "Cabocla" ganhou terreno. E faz jus à mão dura do autor quando trata de questões polêmicas nacionais. "É uma novela muito romântica, não tem apelação, não tem sacanagem de nenhum tipo e, ao mesmo tempo, tem uma temática política que, embora sendo da época, chega até hoje", diz Barbosa. "Mostra a luta entre os "barrigas cheias" e os "pés descalços", uma projeção do que seria mais tarde a luta dos sem-terra."
A novela coloca em conflito dois coronéis interioranos, chefes políticos de alas diferentes. Um é Boanerges, ex-prefeito, interpretado por Cláudio Correa e Castro na época. O outro, Justino (Gilberto Martinho), é o antagonista, que tem um filho, Neco (Kadu Moliterno), advogado. O pai quer prepará-lo para ser líder político, mas o filho discorda dos seus métodos -com personalidade, o aprendiz é mais ético que o mestre.
Boanerges, do outro lado, não tem filho, só uma menina, Belinha (Simone Carvalho). A paixão do casal é o gancho para todo o conflito da obra. Para concretizar a união, os jovens enfrentam a forte oposição de suas famílias.
"Essa novela termina de uma forma inusitada, em palanque político", diz o autor. Detalhe: o fim da novela deve acontecer em época de eleições municipais, no segundo semestre de 2004.
"Cabocla" foi inspirada em romance homônimo de Ribeiro Couto. Em 1977, a novela teve a direção de Herval Rossano. No ano que vem, o núcleo do diretor Luiz Fernando Carvalho, um velho parceiro de Ruy Barbosa, deve fazer o remake.
O cenário é de época, data de 1926. Existem muitos romances paralelos. Na versão original, Fábio Jr. viveu o tuberculoso Luís Jerônimo, que conheceu a caboclinha tímida Zuca, primeiro papel de protagonista dado a Glória Pires, após o sucesso do papel de Marisa em "Dancin" Days" (78), de Gilberto Braga. Ela era a noiva de Tobias (Roberto Bonfim).
O casal se apaixonava, criando o embate entre Fábio Jr. e Bonfim. Havia ainda a presença de Pepa (Arlete Sales), apaixonada por Jerônimo, uma pedra na vida dele.
Em pleno fim de regime militar, não era fácil fazer crítica política em novelas. Barbosa não chegou a citar problemas com o regime durante "Cabocla", mas diz que só pôde tratar de corrupção numa rival da Globo, a Bandeirantes.
"A última cena de "Pé de Vento" [junho de 1980] mostrava o personagem morto, com o seu caixão na sala e a família em prantos", disse. "Toca a campainha, e a mulher vai atender. Ela recebe do INSS um telegrama e o leva à mão do morto: "Toma meu velho, chegou a tua aposentadoria". Na Globo, nunca teria feito. Na época, não deixavam." (RRS)



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