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QUADRINHOS
Cia. das Letras lança em português a coleção completa de 24 histórias do repórter belga criado por Hergé em 1929
Tintim e suas aventuras voltam ao Brasil
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em janeiro de 1929, um repórter
começou a se destacar nas páginas do "Le Petit Vingtième", o suplemento infantil do jornal belga
"Le Vingtième Siècle" (o século
20). Curiosamente, ele não era autor de textos, mas personagem.
Hoje, 76 anos depois, o (ainda)
jovem Tintim, criação de Georges
Rémi, vulgo Hergé, já tem fama
universal e uma legião de fãs de
várias gerações, conquistada graças à série de 24 aventuras traduzidas em mais de 45 línguas
-além de uma infinidade de produtos associados, como desenhos
animados para a TV e para o cinema, séries de rádio etc.
O relançamento, pela Companhia das Letras, das aventuras do
personagem de Hergé -acompanhado de seu fiel e inseparável
cão, Milu- é a chance de uma
nova geração de leitores brasileiros conhecerem, agora em todas
as 24 aventuras, este clássico que
ficou sem edição em português do
Brasil por décadas -foi lançado
na década de 1970 pela Record,
que publicou apenas nove livros,
e, mais recentemente, importado
de Portugal pela editora Verbo.
Prometido pela editora para o
ano passado, quando o personagem completou 75 anos, o primeiro bloco de aventuras foi lançado
só neste mês, trazendo quatro livros - "Os Charutos do Faraó",
"O Lótus Azul", "O Ídolo Roubado" e "A Ilha Negra"- com preço unitário de R$ 33. As próximas
aventuras, segundo a editora, serão lançadas a partir de junho de
2006, duas edições por mês.
O formato (22 cm x 29,5 cm) é
um pouco maior do que o da edição da Record, e a nova tradução,
a cargo de Eduardo Brandão, moderniza o texto, deixando-o mais
acessível ao leitor de hoje, mas retirando um pouco do charme que
a formalidade das traduções anteriores conferia à série.
Histórico
Hergé criou Tintim baseado em
seu personagem Totor, um escoteiro, cujas aventuras foram publicadas entre 1926 e 1929. A primeira história do jovem repórter,
"Tintim no País dos Soviéticos",
trazia as características que marcariam boa parte da série: as visitas aventureiras a países estrangeiros, o testemunho de fatos históricos e a série de estereótipos
usadas para caracterizar os personagens "exóticos", como russos,
sul-americanos e africanos.
Os desenhos limpos, mas expressivos, de Hergé são um dos
destaques da série, assim como a
série de personagens carismáticos
-o cãozinho Milu, o capitão
bom de copo Haddock, os detetives Dupont e Dupond etc.
As tramas mirabolantes são
bem-humoradas e alternam histórias policiais, de ficção e de
aventura, além de referências culturais e históricas, disfarçadas em
países fictícios. Ao longo dos 24
álbuns da série, Tintim passa pela
segunda Guerra Sino-Japonesa,
pela Guerra do Chaco, pela Revolução Russa, pela América de Al
Capone e até antecipa a primeira
viagem do homem à Lua.
Principalmente nas primeiras
aventuras do personagem, é nítido o racismo e teor imperialista
que derivam da visão etnocentrista de Hergé -figura controversa,
acusada de simpatia pelo fascismo e pelo nazismo por sua colaboração com o "Le Vingtième Siècle", jornal anticomunista editado
por um admirador de Mussolini,
e com o "Le Soir", uma das poucas publicações da Bélgica que
não foram fechadas durante a
ocupação alemã, na Segunda
Guerra Mundial.
Essa visão estereotipada sofre
uma mudança considerável a partir da aventura chinesa de "O Lótus Azul", publicada entre 1934 e
1935. O autor começaria aí a fazer
pesquisas extensivas antes de retratar culturas estrangeiras. Muitos dos álbuns originais -como
"A Ilha Negra"- seriam alterados por Hergé em novas edições,
a pedido dos editores.
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